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Sobre a vivência da morte*

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* Gabriela Duarte escreveu um texto na qualidade de Amiga do 3vial e é a quinta participante desta iniciativa:

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A natureza da vida pressupõe um ciclo individual que termina com a morte; deste modo, a morte não se limita a um derradeiro acontecimento, mas engloba toda a vida, condicionando as atitudes do Homem – VIDA e MORTE identificam-se. Mas a questão da morte pessoal, da minha morte, envolve uma situação enigmática (“Sei o que deixo, mas desconheço experimentalmente o que me espera.”), cuja solução ficará na penumbra porque ninguém a experimentou e porque no exacto momento em que ocorre já não é possível conhecer.

Contudo, o pensamento sobre o sentido da morte pode ajudar a viver a vida temporal com um sentido ético, coerente, sério e com fundada esperança, que estimula o esforço no sentido de nos tornarmos livres, conscientes e responsáveis pela limitada vida disponível; ou seja, é importante ir assumindo a vida e a morte. A coragem de enfrentar pacificamente a morte iminente assinala o ponto mais elevado da liberdade pessoal. O indivíduo crescerá em termos de tranquilidade e de força moral caso a sua luta pela vida o encontre preparado para “ir de encontro à morte”, em vez de lutar desesperadamente contra ela.

Deste modo, atender à morte é atender à vida; aprender a morrer é aprender a viver e é na dimensão ética da morte que esta adquire também sentido na vida dos homens. Como diria John Donne:

No man is an island, entire of itself…any man's death diminishes me, because I am involved in mankind and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.

(“Nenhum homem é uma ilha, inteira em si…a morte de qualquer homem diminui-me um pouco, pois estou envolvido em toda a humanidade e, portanto, não mandes perguntar por quem os sinos tocam, eles tocam por ti.”)

1 comentário:

  1. Cara Gabriela,

    Agradeço que tenhas participado nesta iniciativa que tanto me deixa contente.

    O tema que escolheste, enriquecido pelas citações que seleccionaste, é sem dúvida um bom tema para pensar.

    No âmbito da educação das crianças, não existe qualquer tipo de preparação para o fenómeno da morte, embora qualquer pai e mãe saiba que o seu filho ou filha necessariamente se cruzará com ela, nem que seja com a sua própria morte.

    Acontece que este é dos temas que mais se evita na sociedade, pela sua conotação de tristeza, miséria, desolação, impotência.

    Preferimos chorar tragicamente a morte no que dia que ela nos bater à porta, do que procurar interiorizar o processo natural que é e retirar-lhe o poder de nos fazer verter tantas lágrimas.

    É que tal como não nos é permitido decidir se morremos ou não, esquecemo-nos que ninguém nos deixa decidir se queremos viver ou não, pelo que a restrição da morte em nada se separa da restrição da vida.

    Grato,

    Marcelo Melo

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