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Sobre as conversas acerca de arte

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Untitled - George Condo (2010)

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As discussões sobre a arte passam-me ao lado, facto que não é de agora.

Faz-me imensa confusão o novelo conceptual no qual se transformam essas aventuras pelo tema da arte, com questões como qual a sua órbita, o que a move, o que a distingue da não arte, e onde entra ou qual o papel do artista no espectro artístico.

E porque a arte desagua em charcos abstractos, quanto mais se investe em terminologias e construções ocas que parecem querer dizer tudo mas que significam nada, mais a arte converge para um universo que não existe, um plano teórico que dissocia doentiamente as peças ditas de arte das conversas que se dizem sobre arte.

Nunca percebi bem por que motivo as intelectualidades procuram criar uma aura de intangível na caracterização da essência da arte. Parecem querer evitar ardentemente que a arte se esgote num qualquer estereótipo que se crie, e como tal preferem que vagueie no meio de multifacetadas concepções nas quais nunca se encaixa de modo perene. Compreendo que a liberdade artística possa ser acariciada se o conceito de arte for indomável, mas a verdade é que o ser humano precisa de organizar as suas ideias em coisas conhecidas, em estruturas coerentes, em gavetas perfeitamente delineadas. Conceder que a arte consiga o que qualquer outro conceito não consegue, como seja autogovernar o sentido da sua própria essência, não é de todo sustentável.

É por isso que oiço sempre com descrédito as pessoas que sempre aparecem, dizendo-se artistas, e que começam a bombardear os outros com ideias que se sobrepõem, se contradizem, se rebatem, tudo sobre a arte. E ainda mais descrédito merecem quando notamos pela sua expressão que falam desses novelos conceptuais com grande ênfase e motivação, como se se conseguissem realizar perante a confusão e desnorte que estão a criar. Misturam parvoíce e ideias boas, e criam assim o caldo mágico com que querem depois temperar as suas vidas. Abstenho-me de falar sobre arte, porque só de escutar o que se diz por aí, sobram-me tonturas para oferecer, com lacinho e tudo.

Texto Original:  05/2009
Revisão: 03/2019

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