Entrando numa farmácia, dei comigo a perguntar-me se não estava num corredor de uma perfumaria ou de um hipermercado, visto ter sido assaltado por estimulantes mensagens favoráveis aos produtos ali comercializados, todas comungando de um tónico comum quanto ao alcance e preservação da saúde, conforto, bem-estar.
No meio desta aventura visual, lembrei-me que tudo aquilo eram drogas, venenos destinados a tratar doenças e enfermidades. Em boa hora o fiz, porque a apelação dos produtos em exposição numa farmácia potencia nas pessoas uma, essa sim doentia, propensão para o consumo dos mesmos.
Enumeram-se os males e mostram-se as pomadas, cápsulas ou xaropes como se o seu consumo desenfreado e em simultâneo não pudesse catapultar problemas tão ou mais sérios como que os que toda a aquela panóplia de embalagens se propõe solucionar.
Sinceramente, acho que as farmácias com bom aspecto, o que inclui alusões comercialmente apelativas a marcas de medicamentos, quando casadas com uma cada vez mais presente indústria dos cosméticos, produtos dérmicos e afins, faz com que a farmácia perca o seu lugar de respeito e passe a ser um bazar para hipocondríacos. Ir a uma farmácia, actualmente, pode significar dar um posso rumo a uma indução à condição de hipocondrianismo epidémico contagioso.
Digo isto porque estou preocupado com este fenómeno. Ao fim de algumas visitas, imaginei-me a entrar naquele mundo dos medicamentos, a ser amigo dos funcionários cumprimentando-os, e quiçá vir a comprar caixas de remédios para problemas que não tenho, mas que aquele mundo de cor, imagem, cheiro e batas brancas me possa fazer acreditar que sim.
E enquanto as farmácias se vão revezando nas noites de serviço, o utente entra e só com sorte não se dá conta de que as farmácias não estão imunes à doença do consumismo. Já me esquecia: para além da receita, levo também esta pomada e aquele champô.
Sem comentários:
Enviar um comentário