As pessoas habituadas a ler livros de autor único, constroem mentalmente uma imagem sobre o mesmo, à vez, que pode vir a ser rejeitada quando surge a oportunidade de escutar a pessoa em causa a falar, altura em que é quase impossível evitar confrontar o que se leu com aquilo que se ouve da boca do autor do livro lido.
Sucedeu-me isso recentemente com um notável pensador deste país, de quem me tornara fã ao ler um dos seus livros mais badalados. Estou em crer que aquilo que pode ter motivado esta rejeição prendeu-se com a ilusão que a elegância redactiva provoca a respeito da eloquência que se espera encontrar. Quando se lê um livro, não se encontra gaguez ou hesitação, tampouco se pode medir o grau de objectividade que se consegue imprimir instantaneamente a cada assunto discutido.
Em sentido contrário, não contive a comparação desta constatação com uma péssima leitura que realizei no Verão, de um livro da autoria de um psicólogo de quem ainda hoje sou fã. Afinal, no espaço de um ano esbarrei em dois fenómenos homólogos mas invertidos em resultados: ler algo mau de alguém que fala bem, justaposto com ouvir um mau falar a alguém que escreve bem.
De modo algum me permito pensar que me possa constituir um árbitro oficial daquilo que é o bom escrever ou o bem falar, mas não escondo que estas duas experiências me levam a identificar nisto tudo as consequências daquilo que se costuma chamar vocação: uns têm-na para falar, outros para escrever. Sendo certo que a primeira é menos importante que a segunda em termos de pragmatismo funcional, estes dois homens de que falo penalizaram-se na minha opinião por se terem apresentado em registos que não são o seu ponto mais favorecido e no modo como traíram a imagem mental que cultivava dos mesmos fruto de uma impossibilidade de os ter conhecido pessoal e transversalmente no primeiro encontro que em ambos os casos tivemos. E resta a questão: tem mais valor e importância o que se diz ou que se escreve?
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