Justice (Simon Shum)
Nietzsche previu o esbatimento dos conceitos de bem e mal e um subsequente desnorte a esse respeito, correlacionável com uma crise na religião católica. Dentro deste retrato, aproveito para denunciar algo que me merece repúdio pelo carácter subtil e subterrâneo com que é praticado.
Refiro-me a práticas que eufesmisticamente se podem designar por microcorrupção ou microfraude, e que são toleráveis mediante uma lógica explicativa que assenta preferencialmente na noção de que a cartilha de valores que deveria servir de guia para o mundo, sociedade, país ou nação, não mais tem validade e que como tal estamos perante uma crise de valores cuja resposta tende não para um salve-se quem puder, mas para um inédito salve-se como puder.
Sob esta máxima, as pessoas andam por aí a viver as suas vidas praticando pequeno actos de corrupção e fraude com o único fim de alcançarem os seus objectivos pessoais, achando que não vem mal ao mundo por procederem assim,
Imagine-se então o que são milhares de cidadãos a cometer pequenas fraudes e actos de corrupção, e talvez se consiga aceitar que passa a vir mal ao mundo.
Quanto mais se apostar numa matriz discursiva que privilegia a denúncia da crise de valores e do quão caótica e conturbada a sociedade se transformou, mais azo se dá para que as pessoas vejam nos pequenos delitos morais argumentos para não se prejudicarem perante a manha que identificam nos outros.
Este crer que os outros praticam o mal descontrolada e multiplicadamente e que como tal a nossa própria prática do mal apenas vem reequilibrar as coisas ou mesmo impedir o nosso injusto prejuízo, acicata o estado da degradação moral das coisas e apodrece ainda mais tudo isto.
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