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Sobre o problema do espírito de desenrascanço

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A única convulsão social que em crescendo me vem assaltando, resulta da constatação dessa epidemia que é o cultivo do contorno da regras formais como forma de superar os problemas que nos são colocados. Falo de cunhas, de copianços, dos chamados “jeitinhos”, dos chamados “choradinhos”, bem como de todas as demais estratégias que possam conduzir a favorecimentos ilícitos, discriminação vantajosa, facilitação no acesso a oportunidades, concessões a título excepcional, etc.

Mora dentro do nosso povo um espírito do desenrascanço que até consideraria benéfico não fosse o facto de encerrar em si uma porta tentadora para a corrupção e perversão de regras. Por exemplo: qualquer um lamenta que uma empresa passe por dificuldades, mas não é com choradinhos ou com prendinhas ingénuas que se deve tentar atalhar a solução de algo que comercialmente ou profissionalmente parece estar em maus lençóis. Ou então, para quê ir bater à porta de alguém que se conhece pedindo para fazer um jeitinho na admissão do filho, quando existem processos de recrutamento oficiais ao qual ele se deve submeter para que seja seleccionado com base exclusivamente no seu mérito?

Eu até compreendo o eventual desespero que possa levar as pessoas a isso, mas estou em crer que mais do que isso, o que reina é um vício crónico de resolver as coisas fazendo uso de conhecimentos privilegiados e procurando obter deferências que nos ponham em vantagem face a quem não se dá a isso.O que as pessoas não percebem quando atropelam as regras do jogo e tentam dar a volta aos seus problemas por caminhos de sentido (moralmente) proibido, é que mesmo que este problema que a empresa tem ou esta dificuldade em empregar o filho sejam superados, a violação das regras irá conduzi-los a outro tipo de problemas que decorrem desta violação da lógica das coisas. Há quem chame a isto justiça divina, mas não passa de uma consequência natural, semelhante a evitar o chumbo no 10º ano, e chumbar consequentemente no 11º ano.

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