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Sobre a emigração e a definição da vida

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2201887_f2bf_625x1000Com o avançar da idade e o amadurecimento de um indivíduo vai-se solidificando a gelatina que molda a vida de cada um de nós, a ponto de se poder considerar que esta está, finalmente, definida.

Variáveis como a família, os amigos, o trabalho, os filhos, os netos, o local de residência, o local de trabalho, a classe social, o estilo de vida, o estatuto económico, os bens materiais, as ocupações dos tempos livres, são exemplos óbvios do tipo de coisa que se vai definindo com o tempo e que serve para definir a vida de alguém.

É pois com uma curiosa admiração que recordo a experiência vivida ainda bastante novo, que consistiu na emigração para uma cidade do continente sul-americano, geograficamente longe o suficiente para sentir a inusitada sensação de estar perante uma nova vida. De facto, suprimir, ainda que temporariamente, a parte sólida da gelatina que nos define enquanto gente do mundo, permite à pessoa sentir-se dona da sua vida bem como de perceber que está perante uma rara oportunidade de refundar, reposicionar, reestruturar, em suma, redefinir a sua vida.

Creio que é isto que está na base da emigração autoproposta de muita gente, um claro convite a deixar para trás uma definição de vida que não agrada, que não basta, convence ou faz feliz. Isto foi verdade quando tantos portugueses se mudaram para o Brasil, Angola, Moçambique, França, Luxemburgo, e é ainda verdade na dramática decisão de muitos africanos tentarem a sua sorte lançando-se ao mar para chegar ilegalmente à Europa, êxodo só comparável ao dos muitos mexicanos que procuram redefinir suas vidas nos Estados Unidos, sujeitando-se para isso a morrer à sede no deserto. E os que ficam, será que estão contentes com suas vidas? Faltará coragem? Ou serão apenas gente com maior capacidade de sofrimento ou mesmo paciência? A emigração é a prova viva de que o nomadismo é uma realidade que talvez nunca abandonemos por completo, cujo combustível é o sonho e capacidade de sonhar.

4 comentários:

  1. Caro Marcelo Melo
    é graças ao carácter nómada do homem que não é só o continente africano o único a ser habitado, mas depois que o homem evoliu e se sedentarizou, não seria espectável que o nómadismo retornasse. Mas assim aconteceu. A emigração é um fenómeno que tem por base a ambição pessoal de cada um, pois se todos os pobres tivessem emigrado, Portugal seria um país deserto. Se é preciso ter coragem para se abandonar o país em que se nasceu,a mesma coragem é necessária para enfrentar a vida com as parcas condições que o país em que se nasceu oferece. Nunca considerei os emigrantes uma espécie de heróis nacionais, e muito menos os considero quando os vejo, no nosso país, a desconsiderarem tudo o que é português. Isso ofende-me profundamente.
    Que este verão o encontre com óptima disposição, meu amigo. Óptimas férias.
    Um abraço

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  2. Estamos em ano eleitoral no brasil e como faço sempre estou na defesa de um dos partidos que a alta midia mais odeia, no brasil a quetão não é apenas o povo, os cidadões, mas a disputa entre televisões e jornais, mas bem quando eu falava com um amigo sobre minha posição em relação a tv e politica ele me respondeu que quando eu estivesse com 25 anos eu mudaria a minha opinião, agora você diz que o tempo nos amadurece, mas será que ele destroi nossos ideais e crenças. se for assim porque eu, eu memso luto agora.

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  3. Caro Poeta do Penedo,

    O seu ponto sobre os emigrantes como heróis nacionais é de facto pertinente.

    Acredito, porém, que o cenário que denunciou diz respeito a uma fatia pequena da comunidade emigrante.

    Faço votos que as suas férias decorram com idêntica virtude!

    Marcelo Melo

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  4. Caro Sandri Cândido,

    O tempo poderá destruir ideais mas, creio eu, fa-lo-á de um modo indirecto, na medida em que ele simplesmente concede há pessoa margem para viver mais, aprender mais, pensar mais e assim moldar a sua lógica existencial um pouco mais.

    O papel de um jovem na sociedade é diferente do papel de uma pessoa com 40 anos ou de uma com 65, por isso parece-me que nada há a temer quanto a ter convicções em idades joviais, mesmo que estas possam suavizar-se mais tarde.

    Felicidades para si.

    Marcelo Melo

    Ps.: Se me permite uma crítica/sugestão, dir-lhe-ia que você comete alguns erros ortográficos e escreve com algumas gralhas. Recomendo-lhe ou que escreva com mais calma, ou que releia o que escreveu, ou que escreva previamente num editor de texto com correcção ortográfica e depois transcreva. Digo-lhe porque parece mal um poeta como você cometer tais erros, retira-lhe brilho. Não leve a mal, por favor.

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