Procurar:

Sobre a factura do capitalismo

Share it Please

5035908_80a5_625x1000

Movido por uma curiosidade de cidadão intrigado, ausculto a nossa sociedade com o estetoscópio da meditação, à procura de raízes para o sintoma comum que assoma múltiplos domínios da existência pessoal, social e política, para não convocar outros domínios, e que levam a um problemático entravar dos equilíbrios dos mesmos.

Tendo por certo o papel altamente responsabilizante do homem nos problemas que não dependem directamente da Natureza e de putativas forças sobrenaturais, importa pesquisar no leque de atitudes, convicções, hábitos e evoluções que caracterizam os homens de diferentes épocas temporais, eventuais particularidades que possam justificar ou tonificar os motivos de vivermos os problemas que vivemos.

No meu entender - eu que nasci já no âmbito do capitalismo como filosofia de êxito, pelo menos é assim que me apetece encará-lo – os últimos anos de catástrofe económica lançaram as mentes na busca deste tipo de indícios que referi no parágrafo anterior, a ponto de surgir a praça pública a ideia de que o que nos tramou foi a ganância. Pois bem, este modelo económico, o capitalismo, que é quanto mais muito mais do que uma teoria económica pela simples razão de fazer de nós consumidores antes de cidadãos e produtos antes de seres humanos, molda a educação das pessoas no sentido da doentia competitividade. A inveja, a ganância, a intolerância são aspectos colaterais que devem constar de qualquer bula a respeito da promoção da competitividade.

Temos de optar entre uma de duas alternativas: ou culpamos a nossa selvagem mas passiva promoção da competitividade através de um consentimento cego sobre os perigos da instigação da lei do mais forte, do mais belo, do mais inteligente mas também do mais esperto, ou então atacamos os efeitos colaterais como um cabaz epidémico e criámos lógicas atenuantes desses efeitos na sociedade. Mergulhando neste tipo de perspectiva sobre o que vivemos, acaba por não ser assim tão leviano comparar dois políticos que convergem num projecto comum a um casal que não se consegue entender a respeito do projecto de vida: falta aqui tolerância pela opinião díspar, falta aqui repressão da ganância de sobrepor os nossos problemas aos problemas dos outros, falta aqui anulação da inveja pelo que supomos que os outros têm ou conseguem. Quanto a mim estamos a alimentar uma excessiva e antiética competitividade na nossa sociedade, que mina a autenticidade das emoções, comportamentos, etc, para depois restar apenas o egoísmo frio e feroz de querer promover o “eu” e não conseguir encontrar valor no sucesso do “nós”.

1 comentário:

  1. Caro Marcelo Melo
    Nesta mentalidade materialista em que a humanidade vive, o capitalismo é o rei supremo, um monarca déspota, sem escrúpulos nem moral. Uma enorme besta, que se vai consumindo ao mesmo tempo que engorda. Não sei qual será o futuro, mas a consciência colectiva não conseguirá viver em paz com tamanho animal. Se não for por uma guerra nuclear, será por uma guerra de natureza psicológica que a humanidade entrará em colapso. E aí , esquecido o dinheiro, regressaremos ao tempo de seres recolectores.
    Era bem feito!
    Um bom fim de semana.

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...