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Sobre a crise em Portugal: a racionalização de um problema

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Não consigo conceber que um país seja capaz de resolver um problema sem que se debruce a pensá-lo. Façamo-lo, portanto, a fim de compreendermos a realidade que temos e aquela que nos espera.

Quiçá o obstáculo mais impeditivo das tentativas de reflectir a crise portuguesa, resida nas dimensões possíveis em que se pode concentrar a discussão: politicamente, sem dúvida que a dimensão financeira é a mais determinante e mediatizada, mas não devemos desconsiderar as dimensões sociais, instrutivas, económicas, laborais ou culturais.

Repara-se que, em termos financeiros, é bastante expedito quantificar o grau da nossa crise. Os dados sobre as nossas dívidas e avolumado despesismo estão há muito identificados. Contudo, importa perguntar se tais dados não reflectem outras dimensões da crise, sobre as quais não é possível quantificar intensidade ou efeito. Do mesmo modo que as famílias estão problematicamente endividadas ou embrenhadas numa lógica de consumo avassaladora, também o estado reflecte esse comportamento. Nisto temos um estado que reflecte os seus cidadãos, posto o que se torna tentador perguntar se a resolução da crise do país não passa pela resolução da crise individual dos seus cidadãos. Pois bem, no meu entender, a resolução da crise vivida pelos cidadãos resolve-se com alteração de paradigma, isto é, mudança de mentalidade e de metodologia.

O que me assusta na (comum) não inclusão das outras dimensões na discussão da crise, é o facto de parecer que se todos amanhã acordarmos com as contas pagas, inclusive o estado, deixará de haver uma crise e estará reposta a normalidade. Desenganemo-nos!

Estamos nesta crise porque fechámos os olhos aos desafios que a entrada na europa e a participação do inevitável processo de globalização implicavam. Em termos instrutivos, não conseguimos compreender que mais do que qualquer um de um diploma, importa garantir que a formação é efectiva e traduz-se na prática num acréscimo de valor para o próprio e para o país. Em termos laborais, não compreendemos que a excelência e o rigor são os únicos argumentos para alcançar produtividade e competitividade. Continuamos sem nos livrarmos das cunhas e receptivos aos imprevisíveis desenrascanços por preguiça de antecipar, o que só nos provoca atrasos. Em termos culturais, não conseguimos erguer a auto-estima nacional porque temos noção da nossa mediocridade na Europa e devido à nossa cegueira perante o que se passa no mundo, não percebendo, por exemplo, a presença de imigrantes como parte de fenómenos e transformações mundiais.

Quisemos pertencer ao apetecível palco e projecto europeu, mas mantivemos o nosso posicionamento de aldeia tradicional, talvez mais urbanizada devido a obras públicas com fartura, mas tragicamente alheada das transformações mundiais tão implicantes na nossa conjuntura actual.

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