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Sobre a postura ética irrepreensível

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Faultless explorer - Daniel Atenyi (2023)


Mais cedo se badalava a polémica do copianço nos exames dos futuros magistrados [em 2011] e menos tardiamente era este texto escrito, pois existir era uma questão de tempo. Pensara em abordar a questão da ética irrepreensível exigida em alguns anúncios de emprego como um requisito solitário, mas a recente polémica vem mesmo a calhar, somando pertinência ao que já tinha planeado refletir.

Tendo estado calhado em contatar com anúncios de emprego, folguei em saber que em alguns deles o candidato ideal deve garantir um sentido e postura ética irrepreensíveis. Uau, exclamaria eu, não fosse achar que ética irrepreensível não é requisito específico, é requisito geral, pois não passa pela cabeça de nenhum empregador honesto admitir gente de ética duvidosa, nem mesmo de ética questionável a priori.

Ética irrepreensível parece ser um reduto que foi criado para contornar a questão de o empregador considerar avisado vincar bem esse requisito, não vá algum desonesto arriscar uma candidatura.

Folgo também em saber que a palavra ética ainda pertence ao campo lexical português e que não pertence tão só ao inferiorizado e desprezado reino da filosofia.

Até que é notícia a fraude nos exames dos magistrados, e todos queremos ver rolar cabeças, porque um juiz é um juiz, querendo isto dizer que um juiz deve ter uma postura ética irrepreensível.

A fraude no exame dá ao prevaricador uma nota fraca, que ainda assim lhe permite progredir, o que significa que nada detém a postura ética repreensível de progredir e fazer escola. Quem faz barulho para acusar é puritano, pois quem nunca copiou que atire a primeira pedra (ou cábula).

O problema é que há gente que nunca copiou e que pode, senão mesmo deve, atirar a primeira, a segunda e a terceira pedras, até que uma dessas pedras estilhace os telhados vidros dos que fazem da fraude estilo de vida. Fará figura de betinho, de menino de coro que nunca soube o que era o mundo selvagem lá fora, mas não privará muitos de sentirem na pele temor e desconforto em doses proporcionais aos seus níveis de autoestima.

Anda muita gente enganada na sociedade. Gerações de enganados aprenderam a viver no engano, a convencer-se de que o resultado final prevalece sempre à travessia dos desafios que a vida vai impondo, e que à revelia do certo e do errado se consegue eternamente garantir a sobrevivência, e o sucesso, até.

Até que começam a ver-se requisitos como postura ética irrepreensível, e povos a recusar colaborar connosco, quer seja financeiramente como de outras formas. Começam os credores estrangeiros ou éticos a mostrar que é finito o número de vezes que os enganamos prometendo que será desta que deixaremos os vícios (de auto-estradas ou cigarros) e nos disciplinaremos, nos regraremos.


Publicação original: 06/2011

Revisão: 03/2024

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