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Sobre a produção de alternativas por analogia

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“A maneira mais comum de produzir alternativas é por analogia. Se você está a experienciar algo que já experienciou, saberá o que fazer ou não fazer, dependendo de como lidou com as circunstâncias anteriores. Também pode comparar com o que aconteceu com o seu melhor amigo, ou com o que viu nos filmes, ou leu neste livro. Descobrir pontos em comum com outras soluções -  criando uma analogia – é uma maneira eficaz de compreender a sua dificuldade actual.”

Mais Platão, Menos Prozac – Lou Marinoff

 

O trecho acima enuncia com limpidez a forma habitual como a mente opera para resolver problemas e situações com que um indivíduo se depara. A expressão “puxar pela cabeça”, que tantas vezes é empregue como forma de evidenciar algum lapso de memória, obteria melhor emprego caso se aplicasse à construção/detecção de analogias por parte da mente.

Naturalmente cada indivíduo tem a sua capacidade inata ou desenvolvida para interpretar o que vive ou experiencia e transformar o sumo dessa vivência ou experiência em matéria fértil para analogias futuras. Podemos ver um filme apenas por ver, sem qualquer interesse em interpretá-lo, do mesmo modo que podemos proceder assim com um livro, com uma conversa com um amigo ou connosco, na nossa intimidade.

Achei importante destacar este trecho porque se soubéssemos o quanto ganhamos com a absorção de conteúdos e o quanto mais ganhamos quando os interpretamos, talvez olhássemos para a determinadas experiências que parecem aborrecidas ou triviais e lhes déssemos o devido crédito pela forma como alargam a nossa perspectiva e a nossa capacidade de produzir alternativas no futuro.

Não posso, porém, ignorar que o mesmo trecho implicitamente revela uma perigo da mente humana: a clareza da nossa visão, mas sobretudo a falta dela, podem determinar que erroneamente nos achemos estar numa situação que já experienciámos antes (“eu já conheço esse filme”) e nos faça adoptar um código de resposta assente numa analogia que em verdade está a ser forçada. Por vezes baste o preconceito e o vício da ligeireza de observação para sermos conduzidos a esta armadilha. Em tais situações seremos vítimas da nossa própria indisciplina de análise. Estou em crer que muitas vezes só a vivência em primeira pessoa permite disciplinar a mente para compreender aquilo que o amigo sentia, ou que se narrava num livro lido. Tendemos a aligeirar a compreensão dos assuntos, a ponto de, como disse, podermos nem sequer perceber qual o valor de contactarmos com determinada experiência enquanto terceiros.

Ao estarmos a evoluir para uma intensificação do consumos de conteúdos e de comunicação com outros, esperar-se-á que a nossa capacidade de produzir alternativas melhore naturalmente, caso contrário algo em nós estará errado (e nas palavras do senhor Marinoff).

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