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Sobre as intuições e filosofias não sistematizadas

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“A maioria das pessoas expressa filosofias e intuições profundas sobre como e por que as coisas são do jeito que são, mas não as formularam a partir de um conhecimento sistemático e, portanto, não podem agir de acordo com elas.”

Mais Platão, Menos Prozac – Lou Marinoff

 

Perguntaria alguém, ouvindo ou lendo frase acima: que mal tem não agir de acordo com conhecimento sistemático? Esse alguém poderia perfeitamente ser qualquer um de nós, dependo do estado de espírito, porque na verdade muito poucos serão os que conseguem ler uma frase destas e atingir desde logo a importância do que se transmite. É exactamente porque não atingem de imediato as implicações, que não valorizam uma enunciação destas.

Embora não defenda uma forma de vida hermética e previsível por força da racionalidade, creio que sem um conhecimento sistemático é difícil perceber, olhando para nós, quanto do que somos depende sobretudo do nosso feitio/carácter (vertente sobretudo emocional, hormonal, etc) e quanto resultará sobretudo das referidas intuições/convicções/motivações profundas (sentimentos e pensamento).

Ninguém morrerá se não conseguir ou quiser sistematizar o seu pensamento, porque não estamos perante uma doença ou um mal. Poderemos antes falar de consequências, pois isto da sistematização poderá ser entendido como uma camada mais profunda da existência, cuja essência é perceber a nossa existência dentro de um conjunto de regras aprendidas ou desenvolvidas internamente. Para que se torne claro, uma pessoa que não sistematiza é capaz de gostar de música e ouvir inúmeros artistas todos os dias, mas ter dificuldades em responder à pergunta quais são os artistas com que te identificas.

À medida que a sociedade se complexifica os desafios de sistematização são crescentes, do mesmo modo que avança a confusão sobre a nossa identidade intelectual. Sem sistematização não nos conhecemos para lá da casca da nossa existência, e como tal não percebemos bem quem somos, o que queremos, de que gostamos, sem ser pela via emocional ou experiencial, a qual depende de estímulos do quotidiano.

Talvez se deva à falta de sistematização a forma de estar de muitos cidadãos na, de que eu me confesso pontualmente exemplo, que é a tentação de analisar assuntos ideológicos, como política, ética, religião, etc , com abordagens não ideológicas.

Deste facto resulta um hábito de responder aos assuntos mais com base na forma particular como nos sentimos no momento (alegres, irritados, nervosos, ansiosos), do que atendendo ao rumo e objectivo geral com o qual nos identificamos e que serve de linha orientadora da nossa opinião. É talvez um pouco por aqui que se joga a importância da sistematização.

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