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Sobre um norueguês que mata concidadãos

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A Europa esqueceu por momentos a crise financeira porque um indivíduo norueguês matou uma série de conterrâneos como uma forma de concretizar ou pelo menos dar visibilidade à sua ideologia nacionalista e vincadamente xenófoba.

Num momento em que moralmente se recomenda uma compaixão silenciosa por quem é vítima, é sobretudo tentador alegar que um indivíduo que mata em massa é psicopata ou sofre de distúrbios. Contudo com alguma irreverência intelectual veremos como é ilegítimo avançar sistematicamente com o rótulo de doente mental a quem comete atrocidades semelhantes a esta.

Ser-se radical não é ser-se doente. Nem todo o que mata hediondamente é doente. E por mais que queiramos achar que para se fazer algo assim não se pode estar bom da cabeça, casos como este mostram que é possível empreender actos homicidas com base na racionalidade. Para isso bastará que se crie e alimente ma teoria até limites a que poucos chegam, que são os limites da solidão de crença. Em questões como a superioridade da raça, da religião, entre outros, quanto mais caminhamos para o radicalismo mais sozinhos estaremos. A solidão tem o estranho dom de remover o contraditório e abrir caminho à mente para se convencer ainda mais, nem que à custa de argumentos martelados, daquilo que já se vinha convencendo.

O radicalismo apoia-se muito na ideia de autodefesa, na exacta medida em que o isolamento confere ao isolado uma compreensão dos assuntos numa base eu “e o” mundo, e em contraposição a eu “no” mundo. Ao permanecer na solidão ideológica que anula o contraditório, a pessoa passa a rejeitar participar no mundo e começa a idealizar o seu mundo, como se fosse possível e legítimo a cada um construir e impor ao mundo um conjunto de regras personalizado para o reger pela forma como o radical vê as coisas.

Como disse, não se é psicopata por se chegar a um estado de radicalismo que mata as demais pessoas. Continua-se a ser humano, mas é-se um humano sem honra, que mete medo, que não é desejado.

A mentalidade deste indivíduo não difere da mentalidade que justificou coisas como o holocausto ou a escravidão africana, e antes de alegarmos cegamente que um homem destes é doente mental, é corajoso pensar que se calhar não é, e que tal como há gente adiantada face ao seu tempo, também haja gente atrasada.

O radicalismo é isso mesmo: a conjugação do produto das ideias geradas por uma mentalidade face à conjuntura em que é conjugada. Hoje escravizar é desumano, antes não o foi. Hoje matar é desumano, nas cruzadas não o era.

Há que distinguir pela negativa quem mata, mas não é avisado ceder à tentação de chamar doente a todos os que racionalmente se decidem a matar.

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