Procurar:

Sobre o teor social das rotinas pessoais

Share it Please

image
Aquilo a que chamamos rotina pessoal, entendendo por isso o conjunto de práticas, acções, caminhos, atitudes, interesses, locais, etc, talvez não tenha tanto de pessoal como possamos imaginar à primeira vista.
É óbvio que a componente da rotina que diz respeito ao que fazemos mais em isolamento, como em casa, no carro, etc é substancialmente mais dependente de nós, e como tal mais pessoal, mas mesmo aí talvez não exista tanto livre arbítrio para intervir na rotina quanto possa parecer.
Se vivemos integrados na sociedade, estamos condicionados por factores intrínsecos à própria sociedade dos quais não conseguimos fugir. Estes factores tornam a nossa rotina um produto da rotina de todas as pessoas, senão veja-se que a hora a que acordamos diariamente não corresponde exactamente à hora que nos permite ter o tempo matematicamente necessário para chegar onde queremos (fazendo pelo meio o queremos) logo de manhã, mas antes a hora a que temos de acordar para conseguir fazer, e sublinhe-se o conseguir fazer, o que queremos e deslocarmo-nos para onde queremos.
Em sociedade, a nossa rotina não é a de um homem-ilha que depende de si e só de si. A nossa rotina está em equilíbrio com a rotina de muitas outras pessoas, que nos rodeiam e que sem o saberem influenciam imenso o nosso como, com quem, quando e quanto...
Será esta perspectiva reducionista da margem que temos para actuar na nossa forma de vida? Eventualmente será, mas branquear que a margem que temos para actuar é estreita significa iludirmo-nos de que amanhã poderemos ser uma pessoa diferente sem que tenhamos de cortar com a forma como estamos em sociedade.
Sem afectar as condições da nossa vinculação à sociedade, alterações significativas de rotina podem ser árduas e a janela para alteração incide sobretudo nos aspectos da vida privada. Porém, a vida privada é fortemente influenciada por aspectos sociais, como o local em que vivemos, o trabalho que temos, aqueles que nos rodeiam, pelo que, novamente, uma alteração significativa de rotina "pessoal" terá de implicar alterações nas condições da nossa integração na sociedade.
Podemos alterar o tipo de transporte que usamos diariamente, e isso afectará o tempo de transporte e consequentemente deslocará ou transformará a rotina do acordar e do chegar a casa. Porém, mesma essa afectação de rotina tem sempre implícita que qualquer que seja a opção escolhida, há que não descurar as rotinas das outras pessoas. Andar a pé numa cidade vazia é diferente de andar com a cidade cheia. Este raciocínio vale para quase todos os casos de que nos lembremos. A margem para mudar a rotina é estreita porque a rotina é uma coisa predominantemente social, daí também as suas influências culturais.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...