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Sobre a autoanálise do que somos enquanto sociedade e indivíduos ***

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Ariadne II - Brigitte Waldach (2018)

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Quando se olha para trás no tempo e se observam determinados traços de mentalidade que caracterizaram sociedades e diferentes povos do passado, podemos constatar como certas crenças, medos e convicções circunstanciais nos parecem hoje perfeitamente injustificados, absurdos ou surreais. Com um ponto de partida destes, não é difícil achar que fomos evoluindo para estágios substancialmente melhores a ponto de sermos no presente a sociedade mais esclarecida, evoluída e sofisticada que jamais existiu. E todos os dias esticamos um pouco mais esta fasquia evolutiva.

Tenhamos, no entanto, uma indubitável e pragmática certeza: um dia olharão para nós uns olhos (que chegarão do que para nós é hoje a escuridão do futuro), e a boca correspondente a esses olhos quererá rir-se do que aqueles permitirão sentir a nosso a respeito. Rir-se-ão quiçá pelo nossa crendice no dinheiro como hoje nos rimos da crendice de nossos antepassados de que rezar poderia trazer a chuva. Rir-se-ão, quem sabe, do modo como nos fazemos pindéricos e básicos na procura pela sofisticação tão baseado em coleccionar dispositivos electrónicos atrás de dispositivos electrónicos. Rir-se-ão do nosso exagero a comprar e usar roupa e adereços, como nos rimos hoje das calças à boca de sino ou de antigamente só se sair à rua de fato e chapéu.

Não nos devemos envergonhar ao ponto de estagnação. Talvez nem nos devemos envergonhar de todo. Porém, serve esta perspectiva registar que não obstante podermos ser de facto hoje o melhor que já existiu, tal como todos os melhores que foram existindo antigamente, possuimos defeitos, incoerências, excessos que nos caracterizam de modo caricatural. Cabe a cada um antever qual o motivo e característica pelos quais seremos lembrados enquanto sociedade, e talvez fazer o mesmo exercício a nível pessoal: antecipar o que nos apontarão aqueles que, daqui a 3 gerações, se lembrarem de nós e quiserem saber quem fomos, de que modo fomos e o que fizemos com a nossa vida.

Não julgo que seja assim tão difícil perceber onde se situam os traços que caracterizarão a nossa sociedade. Receio que não consigamos ainda rir desses próprios traços, mas na qualidade de ex libris da evolução (pelo menos à data), é um exercício superior caricaturarmo-nos de livre vontade e genuíno interesse. Ao fazê-lo estaremos a antecipar qual o rumo cultural do dia de amanhã e de que modo poderemos influenciar a nossa evolução, dentro daquilo que esta permite influenciar, obviamente.

Sejamos humildes e tenhamos a pedagógica modéstia de perceber: certos traços de hoje serão vistos como cómicos excessos equivalentes aos fatos e chapéus ou às rezas por chuva. E isto, senhores, dá que pensar.

Publicação original: 09-11-2011 

Revisão: 14-07-2018

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