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Sobre o carpe diem para o qual caminhamos

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Ou me engano muito ou o estilo de vida das pessoas está a evoluir no sentido do carpe diem.

Bem sei que a filosofia não consegue ter força suficiente junto das pessoas para conseguir reclamar formalmente para si uma transição assim. Não se trata, portanto, de uma transição filosófica explícita, sobretudo porque ninguém fala dela nem a identifica como tal. O que é facto é que as pessoas de um modo geral estão a sentir-se inseguras quanto ao seu futuro, quanto ao estabelecimento de planos a longo prazo, quanto à tomada de decisões que implicam mais o futuro como o presente.

O enfoque em cada dia é cada vez mais uma inevitabilidade, e é nesse sentimento que se fundamenta um carpe diem não desejado mas de pragmática contigência. Estamos a ser levados ao carpe diem não por uma proactiva escolha dessa mentalidade existencial (e filosófica) mas como escape para a vida que levamos nos dias de hoje.

Viver o carpe diem não significa ser perdulário na gestão dos recursos e das opções de vida. Não significa abandonar o trabalho e dedicar-mo-nos ao que gostamos, nem tampouco gastar o dinheiro todo em coisas que nos dão prazer. Não é isso, aliás, que as pessoas estão cada vez mais fazer.

O carpe diem para o qual caminhamos é antes o carpe diem da responsabilização do presente como resposta à responsabilidade perante o futuro. Valorizar o dia de hoje como resposta à incerteza do futuro. E neste sentido é um carpe diem que preconiza atitudes responsáveis hoje para que, no que depende de nós, o carpe diem de amanhã não seja mais complicado. Parece-me que este aspecto é de suprema importância: ao reconhecer que o meio externo está a impôr níveis de complexidade e incerteza que atentam contra a certeza no futuro, o carpe diem diário visa responsabilizar cada um para o seu presente, para o dia hoje, designamente através da não incursão em decisões ou opções que venham agravar a inevitável complexidade e incerteza imposta pelo meio externo.

É neste contexto que se começam verificar transformações culturais significativas, de que são exemplo a preferência pelo aluguer face à aquisição, a preferência pelo pagamento a pronto em detrimento do crédito, ou outras de âmbito social, como a instauração de tímidas taxas de natalidade na sociedade.

Pergunto-me se será este um caminho sem retorno e se alguma vez haverá condições para regressar a um estilo de vida mais folgado e dado a projecções de longo prazo. Dúvidas à parte, o que é líquido é que as sociedades, à escala de cada cidadão ou de cada núcleo familiar, se batem com uma mudança de paradigma que reflete a mudança idiossincrática imposta pelos tempos de hoje.

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