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Sobre a comédia como elemento de instrução e otimização do mundo

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© Tiago Hoesel


Que valor acrescenta o humor ao mundo? 
Será o prazer que o humor proporciona o fim último da comédia que prezamos consumir?

É um facto que o humor leva-nos a desejar a ver, ler e ouvir conteúdos. Nesse aspecto é desencadeador de uma reação de relação com o mundo. Vemos o vídeo das declarações de um político ou uma notícia bombástica com o interesse dos factos, e depois vemos com idêntico interesse a paródia dessas coisas, isto é, a (des)construção cómica desses mesmos factos.

Aquele que se liga ao humor mais moderno tem de estar em cima dos factos, tem de saber o que se passa no país ou mundo, e nesse aspecto o humor presta um serviço à não alienação das pessoas perante assuntos  da sociedade.

A contrapartida disto é que o humor, associado às rivalidades desportivas ou políticas, prende os seus consumidores numa espiral em que a piada é arma de um combate sem fim que visa deixar uma fação por cima das demais. Pensemos na energia, tempo e espaço mental que as piadas que circulam pela net requerem em termos de idealização, edição e publicação? Para quê este esforço?

Embora não tenham sindicato, os humoristas adquiriram o estatuto de uma classe. São gente poderosa, temível até, dado o poder mediático que conquistam e o ascendente que consequentemente conseguem gerir junto da legião de fãs que os segue. Ainda assim, são gente que não costuma abusar nesse poder concedido. Não costumamos ver humoristas a querer beirar manobras de manipulação de pensamento ou campanhas cujo fim extravase o âmbito humorismo. Nisto são intelectualmente honestos.

As pessoas livres prezam riso. Viciam-se na ridicularização e no gozo que dá explorar a dimensão absurda e    anómala dos assuntos. Neste patamar, o humor é um rebuçado da Régua na versão intelectual. Pelo que deixo outra questão: saberemos nós evitar esta diabetes, isto é, a obesidade açucarada provocada pela insistência maquinal na comédia como resposta a tudo?

Acredito que, do mesmo modo que auscultamos diferentes vozes da sociedade pertencentes a círculos profissionais ou de pensamento distintos, como os chamados parceiros sociais, os psicólogos, os académicos ou os economistas, ouvirmos os humoristas e o que têm para dizer permite-nos tirar também ilações sérias, ainda que possam chegar até nós sob uma estética engraçada. Trata-se de um elemento de forma que só indispõe o conteúdo se assim o consentirmos.

Tenhamos presente esta ideia: o humor intelectual que cresceu e vive hoje um período áureo ou pelo menos maduro não se esgota num sorriso ou gargalhada. Ele presta um serviço às pessoas, joga com sensibilidades aos assuntos e funciona como uma ferramenta de otimização que invariavelmente incide sobre os aspetos a corrigir num dado assunto ou pessoa.

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