Anda o país em reboliço por causa do desporto, porque a sede de vitória e o gozo de a comemorar sob o olhar dos derrotados é um espectáculo a não perder.
Profissionalizou-se o desporto e com isso chegou o advento da técnica. Pela técnica tenta-se esbater a incontornabilidade das coisas: o desfecho de fenómenos complexos e interrelacionais não é passível de controlo individual, somente de influência.
Gera-se então esta pressão para vencer e com ela chega a frustração de só um o poder fazer: os que perdem vergam-se ante a falta de sorte ou excesso dela por parte dos adversários, mas os que ganham chamam a si toda a excelência da técnica e mentalismo, como se por si, estes chegassem para alguma coisa definitiva.
E o desporto é então este espelho, por onde se espreita e se vê por ele reflectido o grande Adamastor do ego individual, que não consegue aceitar, por mais que se lho repita, que o desporto não deixa de ser um jogo (com tudo o que isso implica em termos de sorte e azer), e que a intercalação do perder e ganhar é, no longo prazo, o desfecho mais natural e expectável.
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