© Jason de Caires Taylor
Comentava "ontem" que quando alegamos que alguém é burro ou teimoso como um calhau, estamos a tocar num eixo subtil da humanidade.
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Vejamos: alguém que todos os dias tenha de percorrer um dado caminho que se encontra obstruído por um calhau, poderá insistir sistematicamente na sua transposição até que a dor das canelas feridas o faça desistir de vencer algo que é superior às suas própria forças: a natureza e suas leis. É por demais óbvio que neste contexto o próprio indivíduo só tem a ganhar em contornar o calhau ao invés de o afrontar, aceitando o mundo como ele é, mas é um processo que demora o seu tempo.
Pois bem, troquemos agora o calhau por uma pessoa, e que passa a suceder? Projetando humanidade no obstáculo, passamos a implicar mais severa e persistentemente, achando que de contrário estaremos a engolir um sapo o interlocutor não ceder, ou sentindo uma raiva e amargura interior por ver um semelhante a invalidar a concretização das nossas expectativas. Neste contexto, a dificuldade em aceitar o mundo como ele é é francamente maior, podendo mesmo nunca acontecer, para mal da desejada paz de espírito e felicidade na vida.
Este é o tipo de drama que assola e preenche a maior parte de nós. Pode o caminho e o calhau não ser físico, mas o embate é real e doloroso qualquer que seja a natureza da questão.
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