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Sobre a religião o dinheiro, e o seu deus: os mercados financeiros

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Com um baque dou comigo a convergir sem pudor para a invectiva de que a religião mundial atual é a do dinheiro, e que é em seu nome que reapareceram as cruzadas no médio Oriente, já que é pelo e ao dinheiro que todos se prostam e prestam tributo, a ponto dos mais credulários cidadãos (quase a totalidade deles) consentirem surpreendentemente o silenciamente do seu livre arbítrio - logrando desse modo autênticos atos de fé - em prol do ideal contemporâneo mais cristalizado e unânime: o dinheiro.

E como se isto não bastasse, vejo com vincadas reservas aquele que é o mais recente bastião desta religião, o seu deus: os mercados financeiros. Para o fiel é importante que se lhe aponte o seu deus, para que este se organize para o venerar. Porém, neste caso ninguém lhe está dizendo objectivamente isto: este acabará por perceber no discurso do bispado (banqueiros) e da padreação que fala às massas (políticos) aludindo sistematicamente aos mercados como o derradeiro e intransponível reduto do poder.

Fala-se da vontade dos mercados, da reação dos mercados, da penalização pelos mercados, da expectativa dos mercados, ou da sua incerteza. Os mercados financeiros conjugam assim aquela tríade deífica por definição: omnipresença, omnipotência, omniciência. É por eles, ou melhor, por Eles -ainda não percebi porque se fala no plural (será esta uma religião politeísta em jeito de sociedade anónima?) - que todos trabalhamos, que os sacrifícios são feitos. Temos de nos esforçar por estar à altura do que os mercados esperam de nós, pois assim existirá alguma esperança relativamente à misericórdia que os Altíssimos poderão conceder, poupando dramaticamente as vidas, sonhos e esperança da populaça.

E toda esta roupagem circense num contexto de incontida profusão de ciência, inovação tecnológica e liberdades individuais, grassa com um surrealismo de autêntico ritual tribal. Invoca-se os mercados nos discursos e todos, na sua ignorância de crentes nessa religião, crêem saber de quem se está a falar: mas quem são os Mercados? Quem lhes assina os documentos ou ordens? Os Bispos (banca) e os padres (politicos) vão intermediando o contacto das massas com o seu Deus, a esta trupe cabe descodificar e difundir em jeito simplificado a doutrina que coordena o cerimonial de tributo: mais sacrifícios caso os mercados andem desapontados ou rancorosos, ou mais misericórdia, caso os Mercados notem que tem havido doses de senso e esforço de assinalar. Mas não nos enganemos, a misericórida é rara: misteriosos são os caminhos do Senhor!


E assim vão os povos, de prece em prece, falando de Crise como quem fala dos males do pecado, e aceitando castamente os necessários atos de contrição pela via da Austeridade. Corações ao alto! Nosso coração está nos Mercados Financeiros.

Ps.: E o milagre da multiplicação, estará para breve?

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