Há muito que me vem perturbando uma certa ausência de discussão sobre as alternativas para o desenvolvimento da civilização democrática. O capitalismo venceu o socialismo na década de 80, e gozou dos últimos 30 anos para se intensificar, evidenciando por consequência o seu melhor mas também o seu lado mais lunar.
Sem alternativas cabais ao capitalismo, a democracia não reúne atualmente condições para a salutar prática da tese e antítese que tão bem permite apurar a geografia do sensato. Aceita-se então tudo o que dá à costa, é o preço a pagar pela inexistência de polarização visionária. Tudo se legitima como único caminho no horizonte, e isto só pode ser um mecanismo perverso.
Mergulhados num manifesto exagero e desvario capitalista, temos hoje os Estados a hipotecarem a sua existência em prol da sustentação de algo que julgaram desde sempre estar sob sua alçada: a economia. Por se afirmar global, a economia é há anos uma entidade transnacional que se impõe como derradeira lei e que sodomiza os ideais assumidos por Estados que nela participam, os ditos direitos adquiridos pelos cidadãos, e que adultera a matriz política de esquerda e direita, porque sem dinheiro nada parece possível. Em suma, a economia é fator altamente despoletador de entropia, levando-nos a pensar com toda a naturalidade se é parte da solução ou do problema.
Eu cá compreendo bem que na frente de batalha governativa o enfoque seja a ginástica financeira para fazer face às responsabilidade diretas que esta economia global imperiosamente impõe, mas considero por demais castrador da esperança verificar que nas segundas e terceiras linhas deste país, onde o menor frenesi recomendaria que se pensasse mais a fundo e estruturalmente nas coisas, tardem em surgir boas ideias, daquelas que um dia venham verificar-se autênticos marcos históricos que ousaram e conseguiram inverter, corrigir ou recentrar o rumo de uma civilização em crise, salvando-a dos outros e de si mesma.
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