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Sobre a proficiência linguística e a "deslabirintação dos espíritos tortuosos"

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(Imagem: Duck Diving - Leeas)


"-Você encontra-se (observe-me bem) por felicidade sua e infelicidade minha defronte do maior espeleólogo da depressão: oito mil metros de profundidade oceânica da tristeza, negrume de águas gelatinosas sem vida salvo um ou outro repugnante monstro sublunar de antenas, e tudo isto sem batíscafo, sem escafandro, sem oxigénio, o que significa, obviamente, que agonizo.

- Porque é que não volta para casa?, perguntou a enfermeira que possuía o sentimento prático da existência e  certeza inabalável de que ainda que a linha recta não seja forçosamente o caminho mais curto entre dois pontos é pelo menos o aconselhável à deslabirintação dos espíritos tortuosos."

Trecho do livro "Memória de Elefante", de António Lobo Antunes


* * *


Na saúde como na doença, não sermos capaz de descrever com riqueza, criatividade e acutilância, o que nos vai alma, é meio caminho andado para a banalização dos estados que vivemos. Esta ineficiência tem como consequência afectar (encurtar ou prolongar) esses mesmos estados devido à falta de clarividência no sentido da melhor decisão quanto a eles; ou então de nunca os perceber, tornando o sofrimento/alegria inerentes aos estados vividos completamente avulsa e casuística.

Quando a nossa capacidade de comunicar é curta, o pouco que dizemos soa muito mais a interjeições do que a mensagens inteligíveis e descodificáveis. O trecho de Lobo Antunes que acompanha esta reflexão é um exemplo prático do oposto do que é a falta de capacidade de concretizar em discurso um estado que se vive. Não temos certamente de alcançar Lobos Antunes na relação com a língua portuguesa, mas convenhamos que nos devemos esforçar por atingir patamares de excelência a esse nível, para nosso exclusivo bem, e do que nos cabe viver.

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