Cada um é livre de entender o que lhe acontece na vida como quiser ou puder. E eu, tendo descartado o Pai Nosso e da Avé Maria como a matriz cristã de interacção quotidiana com o divino, vim desaguar não no vazio de um fim de linha mas numa despontada linguagem alternativa de contacto com essa dimensão maior sem a qual a minha ação/motivação no mundo perde profundidade, confiança e harmonia.
Encontro em coisas aparentemente profanas as minhas verdadeiras e sagradas orações, como quem desvenda sozinho uma religião à sua medida, um religião de tal modo descaracterizada dos elementos tradicionais que tão pouco faz sentido chamar-lhe religião. Neste particular, encontrei na Arte o grande cerimonial de respeito e culto ao divino, e fi-lo porque percebi que o sagrado mora em todas as coisas onde o Belo, qual éter de Espírito-Santo, consegue visitar em sonho.
Hoje dou uma importância inequívoca à preservação dos fluxos de inspiração, de modo que diariamente faço a minha "oração" para agradecer e convocar a desejada visita do transcendente na minha vida, por via da inspiração. Pela minha própria tendência para as Artes, tal prece surge não raro pela música, estando há várias semanas inesperadamente cristalizada numa melodia em particular, de nome "Ilumina-me". É com ela que tenho orado nas últimas semanas, escutando-a com um profundo respeito pelo sagrado e pela Vida, e detendo-me na esperança maior de que "enquanto não há amanhã, Ilumina-me". Essa Iluminação anula o medo de continuar, de perseverar, de persistir. Anula inclusivamente o medo da solidão, o medo de ficar aquém do que deveria ser. Faz de ti um sol, ao invés de um buraco negro sugador.
Não sei, nem quero caracterizar o meu interlocutor celestial quando o faço, mas sei que essa força existe, e que tem produzido resultados extraordinários na minha vida, constituindo por isso a fonte da fé e optimismo com que marco a diferença no mundo.
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