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Sobre a proximidade do dia de S. Valentim ao Carnaval, e o baile de máscaras e conchas das relação amorosas

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A proximidade do dia do S. Valentim ao Carnaval faz-me pensar se não serão estas datas, também, enamoradas uma da outra, com tudo o que isso possa implicar em termos simbólicos. A este respeito recorde-se com apreço de fã a belíssima letra de Rita Lee na música 'Amor e Sexo', quando refere que "Amor é divino/Sexo é animal/Amor é bossa nova/Sexo é carnaval". Quiçá more aqui uma inesperada pista para esta proximidade.

Dito isto perguntaria se o dia S. Valentim é mesmo um barómetro anual do amor entre as pessoas ou se apenas mascara de amor o que é, em verdade, um barómetro de actividade económica. E porque o Carnaval fala de máscaras e do seu confronto com a identidade real da pessoa mascarada, a proximidade das duas celebrações sustenta analogias recíprocas: quantos são os que se mascaram para poder amar alguém? Quantos mascaram de amor a sua real identidade? Quanto amor resiste, em cada um, pela identidade própria? E pela do outro? Pode o amor entre as pessoas ser visto como um grande baile de máscaras? Que diria S. Valentim disso? Somos hoje tão capazes de amar como o fomos noutros séculos/eras? É mais fácil, igual, ou mais difícil fazê-lo no presente?

São estas questões que se levantam insuspeitamente no conforto da generalidade, mas que transitam para a intimidade de cada ser, para aí convocarem sinceridades de resposta impossíveis de revelar na esfera pública. Cada relação é como uma concha, que faz sentido na dualidade bivalve que delimita um interior e um exterior a ela própria, para dessa fronteira permitir um viver para dentro e/ou um viver para fora.  É bonito quando o que se exterioriza está bem consolidado, quer publicamente quer no privado comum, quer ainda no privado incomum, que é aquela dimensão individual que nunca deixa de existir e que tem uma voz própria, maior ou menor. É por ser tão exigente e complexo que o amor se revela tão maravilhoso e arrebatador na sua conjugação em primeira e segunda pessoa do singular.


(Imagem: Clamshell Lovers - Christopher Boffoli - 2013)

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