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Sobre a peça Nunca Mates o Mandarim, e o mau negócio que é cometer injustiças anonimamente (ou não)

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No passado mês de Junho, assisti à peça Nunca Mates o Mandarim, em cena no Teatro Nacional S. João - oferta gentil dos colegas do grupo de investigação de que faço parte, por ocasião do meu aniversário - e em boa hora o fiz. Não só representou uma exemplar troca de um programa de sábado à noite desportivo por um de índole mais cultural ainda, como me abriu perspectivas, qual especiaria exótica, para saborear a realidade num posto de observação privilegiado.

Sobre a peça, para além da merecida menção à valorosa equipa que a tornou possível, devo dizer que é bom trazer Eça para os nossos dias e percebê-lo no contexto civilizacional atual. Teodoro (personagem principal) é um homem agrilhoado a uma vida custosamente banal, e que decide, mediante essa oportunidade, premir um gatilho que mata um oriental anónimo e muito rico, assumindo com isso automaticamente a titularidade sobre a sua fortuna. Se é verdade que Teodoro prime o botão num clímax de tentação proporcionado pela facilidade de fazê-lo no recato e conforto do lar, não menos o é que, já rico, viverá em angústia (eterna) pela injustiça cometida quanto mais sabe sobre o falecido. A ponto de entrar numa desesperante viagem pela reposição da justiça (e do dinheiro), pois percebe que o que recebera não paga o fardo da culpa e os remorsos que esta sopra  sem cessar sobre a sua consciência.

Como lição de moral, referiria a importante mensagem de hoje, como nunca, ser importante hastear a bandeira dos princípios e fazê-la desfraldar contra os ventos da ganância. Esses que, como epidemia, levam muitos a arrepiar caminho para os louros e pelouros sem que o lacre de justiça se faça acompanhar nas suas cartas de alforria. Ninguém se satisfará sustentavelmente quando para avançar tenha de deliberar a morte do "Mandarim", quem quer que este seja no seu contexto. A nós somente deve chegar o que por direito, mérito, ou destino, nos é devido.

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