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Sobre os votos de saúde e paz nas passagens de ano, e inquietantes ideias sobre a natureza humana em matéria de desejos

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Approaching Shadow - Fan Ho (1954-2012)

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Sem querer de forma algum ser polémico e desrespeitoso para com todos aqueles que fazem votos de saúde e paz nas passagens de ano, permita-se-me que explore uma via de reflexão neste tema, porque dele irrompem inquietantes ideias sobre a natureza humana no que diz respeito ao modo como entendem os desejos e o mundo.

Acabo de confirmar no dicionário que a palavra "desejo" liga com "vontade", e esta desemboca numa "inclinação do espírito para uma dada ação". Tendo a entender a vontade como um mecanismo superior e menos mundano que o medo. O medo, grande vilão, tendo mais a associar a fenómenos corriqueiros capazes de desencadear mundividências e experiências dolorosas, negativas, asfixiantes.

Suspeito que quando, na nossa espontaneidade, desejamos saúde para um novo ano, ou desejamos paz, o fazemos mais pelo medo que temos do seu oposto, a saber doença e guerra, do que por uma inclinação efetiva do espiríto para sermos pessoas mais saudáveis ou pacificadoras. Tais desejos, colocados pelo quadrante do medo, propõem-se a inclinar o tabuleiro da vida no sentido analgésico de  se evitar o pior, e não propriamente no rumo de se privilegiar e valorizar o melhor. Há, acredito, diferenças psicológicas nestas disposições, e entendê-las como distintas é meio caminho trilhado para perceber em que medida determinados desfechos dependem de nós, e em que medida, ao invés, determinadas vicissitudes ultrapassam a esfera da nossa capacidade de intervenção. 

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