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Sobre a alimentação ao serviço de disputas filosóficas, ambientais, religiosas, políticas, e outras, ornado com 'Natural selection' (Bo Bartlett)

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Natural selection - Bo Bartlett

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De entre as necessidades fisiológicas do homem, a alimentação é porventura aquela que mais espelha a riqueza e heterogeneidade de entendimentos e comportamentos inerentes ao progresso da atividade humana enquanto civilização global. Os alimentos têm hoje conotações filosóficas, ambientais, religiosas, políticas, científicas, televisivas, e outras que tais. Por este motivo, aquilo que comemos é atualmente uma fonte de informação, que pode evidenciar com relativa clareza as convicções políticas, religiosas, industriais, etc; a falta delas; ou a incoerência entre elas.

Falemos da globalização (revolução digital). Esta escancarou a porta ao entretenimento dirigido ao nicho da gastronomia. Temos reality shows centrados na confeção multinacional de comida  temos programas de turismo centrados na divulgação do que se come em cada sítio, e estilos de vida altamente propensos à pontuação de restaurantes e ao culto ao empreendedorismo na vertente da oferta gastronómica das cidades. Temos o enraizamento de comida não-nativa como o novo normal.

Acrescem a tudo isto as interseções do tema da carne (tipo de animal, leite) com problemáticas como o aquecimento global ou o necessário diálogo e convívio inter-religioso. Ou a estranha lógica do rótulo bio ("saudável" porque minimiza o selo industrial) com os suplementos e comida tipo fármacos ("saudável" porque permite estrito controlo industrial sobre a composição nutricional e não só). E há ainda o vegetarianismo, o veganismo e a crescente disputa filosófica em torno da nova posição do homem face aos demais animais. Por tudo isto, a alimentação é hoje uma necessidade fisiológica ao serviço de necessidades não fisiológicas, com o risco de ser arma de arremesso ou escudo de defesa.

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