Birch garden - Jennifer Hallgren (2019)
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Menos comum entre nós é perceber que do mesmo modo que a presença e atuação são uma forma de produzir impacto na Natureza, a ausência e não atuação também o são. Ocorre-me como exemplo pensar no que sucede com um canteiro de jardim. Alguém um dia concebe um pedaço de terra e trata de o dotar de espécimes e estética a seu gosto, ajardinando-o. Se bem feito, o espaço aparentar-se-á mais natural do que o mato ou ervas daninhas que antes ali existiam. Porém, passado algum tempo, aquele canteiro, pomar e/ou relvado poderá novamente aparentar-se a um matagal, e aí aludiremos à imperfeição humana, ao impacto do homem, mesmo que o colapso do jardim que existia se tenha devido à ausência e inação do homem nos cuidados que o jardim lhe mereciam.
Talvez por estarmos demasiado em contacto com o mundo processado e determinado pelo homem, fantasiamos a Natureza para lá do que é razoável e recomendável. Se o homem se pautasse pelas regras do mundo selvagem, muitas das conquistas civilizacionais que alcançámos ficariam imediatamente sem efeito: acesso à educação, acesso a cuidados saúde, acesso a pensões e subsídios. No entanto, a vida seria sem dúvida mais natural e próxima das regras da Natureza. Haveria seguramente mais roubos , e também os cânones do comportamento sexual em sociedade e da coesão familiar teriam de ser revistos. Por tudo isto, a Natureza merece grande apreço e será sempre uma fonte de inspiração para o Homem, mas o percurso evolutivo do Homem não passa por regressar ao estado selvagem que encontra na Natureza. Algo mais deve existir, e por isso não basta ao homem copiar impensadamente a ordem "natural" das coisas. Tem de a ler, interpretar e destilar sentido para si.
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