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Sobre os incêndios florestais serem regra e não exceção em Portugal, e o fogo não ser uma ocorrência natural como ciclones, cheias ou tremores de terra

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 Blaze - Andrea Kowch (2019)

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Sem prejuízo de tudo o que de melhor se possa fazer em matéria de organização e combate eficiente a incêndios florestais no período quente e seco do Verão português, não consigo deixar de pensar que quando um fenómeno de grandes dimensões é recorrente a ponto de ser presença assídua no território nacional, então ele não é exceção, ele é regra.

O fogo parece conseguir invocar um estranho estatuto de exceção que faz pender a causalidade da sua ocorrência para os confins da criminalidade ou negligência humanas. O questionamento que se impõe é o seguinte: é o homem diretamente responsável pela ocorrência de ciclones? É o homem diretamente responsável pela ocorrência de cheias naturais? É o homem diretamente responsável pela ocorrência de tremores de terra? Creio que não, e em matéria de incêndios persistentes, ano após ano, talvez também não o possa ou deva ser.

Nisto dos fogos há um jogo de responsabilização permanente que obedece a agendas pessoais ou corporativas egocêntricas. Acabamos sem prestar atenção àquilo que o passar dos anos mostra: Portugal é mais propenso a incêndios do que a cheias, tremores de terra ou ciclones. Ignorá-lo é ficar à mercê do político que quer ganhar ou deixar de perder votos com as declarações que faz, do ambientalista que vê como não natural a ocorrência de um fogo natural e prefere atacar as indústrias, da autoridade civil ou de corporação que quer mostrar que a haver erro não é deles, é dos outros. A Natureza não é tida nem achada nos incêndios, ela é forçosamente uma vítima de alguém muito mau, doido ou ganancioso. Coitada dela e de todos nós.

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