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Sobre o jornalismo sensacionalista, a aproximação ao entretenimento, e a promoção de um Schadenfreude coletivo

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Will to pleasure - Ben Sack (2012)

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O jornalismo sensacionalista tem uma audiência generosa e representativa porque é viciante. Aquilo que é coberto pela investidas noticiosas que exploram a sensação centra-se no lado puéril e acessório dos acontecimentos, que apelam ao voyerismo cristalizado no conceito alemão de Schadenfreude [o sentimento de alegria ou satisfação perante o dano ou infortúnio de um terceiro]. Tal abordagem privilegia notícias dramáticas pelo prazer que pode dar contactar com o mal alheio, com excentricidades, com pobreza de espírito ou com profunda maldade. Por isso, é uma forma de prazer perverso, um entretenimento construído sobre factos e evidências, subtraído do valor pedagógico e/ou preventivo. Em suma, é um culto à emoção pela mão da informação.

Se custa a aceitar que tal corrente ganhe audiência e poder no universo mediático dito informativo, a situação não é diferente do que se observa na ala do entretenimento propriamento dito. Quanto do entretenimento de massas não promove também enredos focados no crime, na morte, no tiroteio, no escândalo, no roubo, na pornografia, na explicitação, na tragédia, no efeito especial que amplifica e fantasia o sucedido? Estas vertentes são formas básicas que, um vez profusamente vertidas para um drama, permitem que qualquer pessoa as perceba sem grande esforço cognitivo mas com grande estímulo emocional. E não são estas as formas de endeusamento da emoção que dominam o cinema em cartaz, os livros mais vendidos, ou as músicas nos tops? 

Se há evidência de que a informação estreitou a distância para o entretenimento, esta é dada pela profusão de oferta informativa nos modelos sensacionalistas. Disto resulta que a informação séria, tal como a aprendizagem formal, é um processo que exige disciplina e esforço, mas que nutre e satisfaz quando apreendida, porque enriquece. A aposta no modelo informativo Schadenfreude, pelo contrário, inverte a lógica, e vende informação com os traços de quem consome ficção. O que se sabe é pelo motor da emoção do que é narrado, e não porque o que é narrado se deva ao desígnio moral de denunciar o mal que no mundo se faz ou de promover um mundo melhor, com comunidades mais felizes.

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