Roos van Dijk - Brandhorst Museum III (2016)
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Em múltiplos momentos dos últimos anos tenho sido levado a prestar atenção ao papel central que o sono tem na normalização da importância que um dado sentimento tem no contexto geral da vida que levamos. Podemos adormecer altamente infelizes e acordar com outra esperança num mundo melhor, ou então adormecer sob uma paz interior absoluta e ter um acordar mau e desequilibrante. Esta última versão, a do adormecer bem e acordar pior, é-me extremamente mais incomum do que a outra, o que leva a acreditar que o sono é predominantemente benéfico para barrar tristezas pontuais, ou mesmo espirais negativas.
Este mecanismo assemelha-se à etapa da tecelagem em que se dá o juntar o novo fio ao conjunto dos fios anteriormente tecidos, algo que ao que apurei se designa por "batida do pente". Cada fio é como cada dia, que surge de fora para se inscrever no tapete que é a existência de cada um. Assim, a cada novo dia o tear da vida recebe a alvorada ("abertura da cala"), procede ao florescer e sequenciar dos episódios desse dia ("inserção da trama"), e termina com o sono, "a batida do pente", onde o contributo desse fio (dia) é forçado a juntar-se ao produto que vem sendo tecido e que tem o peso de uma unidade maior que qualquer sentimento ou episódio diário.
O mecanismo de tecelagem dos dias parece ser soberano, e talvez por isso a sabedoria popular aconselhe a dormir sobre os assuntos, quiçá porque é da 'batida do pente' que mais precisamos para tranquilizar o tumulto instantâneo e forçar o fio desalinhado à sua correcta disposição. Tal também por este mesma razão se cometem graves de erros quando estamos cansados e saturados e mesmo assim tomamos uma decisão de âmbito importante. Nesses momentos, ainda que o não reconheçamos, precisamos urgentemente da 'batida do pente' e de uma nova 'abertura da cala' e 'inserção de nova trama', a qual nos dirá se o trabalho de véspera foi ou não bem feito.
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