Procurar:

Sobre a experiência de voltar a viver sem máscara, e os méritos pedagógicos de recuperar a plenitude de uma liberdade (ou saúde) outrora diminuída

Share it Please
Mask - Niobe Xando (1968)

* * *


No final do adolescência creio ter lido de Schopenhauer (se não foi dele foi de Nietszche) que era útil adoecer e recuperar da doença de tempos a tempos, pois isso proporcionava uma regenerada vontade de viver. Algo de semelhante está a acontecer em simultâneo a todos os concidadãos, mesmo que ensombrado por uma insana guerra no leste europeu. Esse algo é o regresso a uma existência social sem máscara sanitária a bloquear o rosto. 

O sabor da liberdade é francamente melhor quando na memória ainda mora fresca a lembrança de momentos parcos naquela. Poder sair à rua e funcionar publicamente sem a obstrução da máscara é motivo de regozijo e esperança, por tudo o que representa de novidade e redescoberta, e por tudo o que mostra da capacidade humana de se adaptar a circunstãncias desfavoráveis, e sacrificar o curto-prazo em prol de dias mais risonhos.

Acho que devemos embalsamar devidamente a experiência e memórias destes anos de confinamento físico, mental, emocional e respiratório. Que o penduremos nas paredes da nossa existência para de tempos a tempos olhar para lá e recordar que há sempre algo que pode surgir e colocar em causa a normalidade que dávamos por certa; e, em cima disso, que há sempre um dia seguinte, um virar de página, uma alvorada em que tudo volta a estar bem (ou quase bem). Esta é um mecânica própria de ter fé na vida, e não deve subsistir qualquer pejo em assumir que assim é e de vibrar convictamente quando é tempo de, por fim, o fazer.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...