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Sobre fazer das coisas 'rocket science' como forma de justificar o nosso desleixo a necessidades de atenção e cuidado a essas coisas

Chanel ultra rocket fall /winter 2017 Le Grand Palais, Paris - Simon Procter (2018)

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Há coisas em que falhamos porque não as compreendemos suficientemente; e não as compreendemos suficientemente porque são difíceis de compreender. Dessas poderemos dizer, aproveitando a expressão inglesa, que são rocket science (ciência de foguetões) para nós, e portanto merecem maior estudo e tolerância caso lhes causemos erros e falsas partidas.

Existem depois outras situações, que não sendo rocket science na sua natureza, acabam por assemelhar-se, porque falhamos sobre elas de modo recorrente e até disciplicente às vezes. Essas não falham, não por falta de compreensão, mas pelo desleixo que votamos àquelas que são as suas necessidades de atenção e cuidado. Estas últimas são mais uma atitude e sensibilidade, pelo que nada tem que ver com a capacidade intelectual de perceber as coisas. Basta que algo esteja a correr mal na nossa vida para que tudo o resto que careça de atitude e sensibilidade fique orfã ou à míngua desses recursos, fazendo-nos falhar. 

À falta de capacidade de tornar consciente que algo falhou porque algo em nós simplesmente não correspondeu ao que sabia ter de corresponder, problemas simples transformam-se em obstáculos intransponíveis, e com eles novas dúvidas (existenciais) sobre se aquele dado processo é, afinal, rocket science. Chega a ser mais fácil demonizar o assunto, fazendo dele rocket science, do que assumir com franqueza e ombridade, que defraudamos o nosso dever. Assim nos enganamos gratuitamente.

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