Pages - Menu

Sobre a utopia humana por saber o que vai acontecer, e a tentação de pular para o harém das certezas logo que a confiança o permita

Wind in the forecast - Krassimir Mihaylov (2022)
* * * 


Saber o que vai acontecer é uma tarefa valiosa. Na política define a adequação da tomada de decisões governativas; na economia define como devemos gerir o dinheiro que temos ou não temos; na religião permite apaziguar certeiramente as águas; na meteorologia permite prevenir e alertar certeiramente para as águas e demais fenómenos; nas empresas permite tomar decisões de crescimento ou armazenamento ou produção que previnam sufocos.

Há pessoas que dedicam as suas vidas profissionais a tentar acertar no que vai acontecer amanhã ou para o ano que vem. Dos analistas de mercado aos apostadores desportivos, dos que trabalham em sondagens aos que operam em seguradoras; dos que estudam o destino do universo aos que inovam em novas tecnologias ou serviços. 

E há ainda os bruxos, a leitura da sina, o horóscopo e os mapas astrais, as teorias da conspiração e as profecias bíblicas ou de fontes anónimas. Estas nunca acertaram redondamente mas também não falharam em toda a linha, sustentando-se por essa ambiguidade.

Ainda que saber prever o futuro acumule cada vez mais adeptos, ninguém sabe o que vai acontecer com a mesma certeza que tem (ou pode adquirir) sobre o que já aconteceu. Esta vicissitude é de resto a fronteira com a omnisciência, porque dificilmente haverá presciência absoluta sem ser por via da omnisciência. Talvez o nosso mal seja o de julgar que por sabermos um pouco (ou bastante) sobre algo possamos saltar a cerca e passar alguma vez para o harém das derradeiras certezas.

Sem comentários:

Enviar um comentário