Há mil e uma formas de sermos apanhados no papel de animal ferido. Basta uma sucessão ingrata, singular ou dramática de episódios de vida, e eis como descobrimos uma carapaça, uma capacidade de reinvindicação ímpar, e uma garra para enfrentar quem ou o que nos apareça à frente. Esta postura pode ser compreendida se conhecidos os factos que a suscitaram, mas pode mesmo assim ser censurada em toda a linha por todos os que não comungam das dores e idiossincrasias daquele que se encontra assim ferido.
Por outro lado, todos têm direito a dias maus, a semanas más, a fases más. Porém, a paciência para aceitar o enviesamento de postura, reação, ego, obstinação daquele que vive esse período como animal ferido vai-se esgotando se ao invés de recolher ao seu abrigo, a pessoa afetada aborda o mundo com a displicência de quem sente que este está em dívida para com ela. E se essa ousadia passar dos limites, então é mais do que plausível que se gere uma animosidade intolerante para com aquele que desafia a paciência dos outros com as suas impertinências de ajuste de contas.
Foi mais ou menos isto que sucedeu ao capitão da seleção no recente mundial de futebol, que minou o carinho e compreensão de muitos para com a situação que fora por ele vivida, à conta da presunção, egocentrismo, desrespeito com que pautou a sua presença a jusante desses eventos. Ele que deveria ver a convocatória para o evento como uma bênção face ao que lhe sucedeu recentemente, acabou a maltratar e fazer exigências infundadas. A ele ninguém lhe retira a gratidão eterna pelo passado brilhante, mas o capital presente foi inexoravelmente delapidado como acontece a todo o animal ferido que não se sabe comportar por demasiado tempo.
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