São raros [em mim] os filmes com capacidade de surpreender de início ao fim, a ponto de transformar o espectador num expectador da evolução da trama, ou seja, de lhe criar a sede de saber mais. Isto sem que se faça qualquer ideia do que a história ainda terá pela frente. 'Esposas Celestiais' (direção Aleksey Fedorchenko) é um desses filmes.
Baseado em pequenas histórias avulsas, o filme tem por objeto a vida do povo Mari, uma comunidade étnica situada no inóspito território russo, com língua e religião própria. Da língua destacam-se os nomes das mulheres, maioritariamente começados por ó (Odocha, Orazvi, Opi, Oshvika, Okai, etc). Já da religião está é peculiar porque tem cariz shamánica, e toda a vida dos Mari parece interligar-se com encontros felizes ou infelizes com espíritos e figuras mitológicas da Natureza, com as quais têm de gerir a relação.
Sem este filme dificilmente saberia da existência deste povo. Com 'Esposas Celestiais' passarei a não esquecer este peculiar povo e cultura. Acresce que é um filme de autor, assinado por um russo de antecedência soviética, e experimentar a sua condução e sensibilidade cinematográfica é só por si uma experiência rara, gratificante e bem sucedida.
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