Procurar:

Sobre a crise migratória e a famigerada fuga de cérebros à luz da fábula dos três porquinhos

Share it Please
Houses in Rain of Blood | Häuser im Blutregen - Friedensreich Hundertwasser (1961)


A crise migratória rumo à europa tende a ser vista como algo distinto da emigração dentro da própria europa mas é possível unificar estes êxodos à luz da fábula dos três porquinhos. Isto sem fazer tábua rasa às diferenças de desespero e risco inerentes a cada uma delas.
Os migrantes que atravessam de barco o mediterrâneo podem muito bem ser os porquinhos que moram em casas de palha, e a quem o lobo mau (leia-se a guerra, a custo de vida, as alterações climáticas, frustração de expectativas) pôs em fuga. Infelizmente têm morrido demasiados durante a própria viagem de fuga, sem chegar alguma vez ao seu destino.

Por sua vez os emigrantes que abandonam Portugal para, sob o rótulo de fuga de cérebros ou outro, se dirigirem a mercados de trabalho europeus que pagam salários mais generosos e com isso permitem outras regalias, são os porquinhos da casa de madeira que também não resiste ao lobo mau. Dá mais luta mas não resiste. Estes não morrem na viagem de fuga, porque a estrada da casa de madeira para a casa de tijolos é mais segura e vigiada.

Há um conjunto restrito de países que reúne condições para ser considerado casa de tijolos que resiste ao lobo mau. É para esses que se dirigem os barcos, os aviões, os comboios, as massas. Poderemos dizer num primeiro momento que porque fogem desde posições longínquas se movem para a Europa, mas isso é ver a corrida dos porquinhos da casa de palha como se fosse dirigida indistintamente às de madeira e tijolos, como se ambas fossem a mesma coisa. Numa segunda leitura a corrida é apenas para a casa de tijolos, a única que será capaz se resistir ao lobo mau.

E se este êxodo social descrito encaixa competentemente na fábula dos três porquinhos, há uma coisa que não o faz e é terrível na consequência que aporta: os porquinhos são muito mais do que três, e não haverá espaço para todos nas casas de tijolo, o que leva a que muitos tenham de viver a sua vida inteira em casas de palha e de madeira, e sobreviver ao lobo sendo criativo nas formas de o enfrentar ou evitar.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...