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Sobre os improducentes palco, holofotes e plateia da internet para quem dela idealiza(va) um fórum democrático e cortês de discussão

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Whistestop Speech - Jeanine Michna-Bales (2018)


Embora a internet ofereça palco, holofotes e plateia para todos os que querem ter algo a comunicar ao mundo, estas liberdades concedidas pela ligação à velocidade da luz entre si de múltiplas máquinas e seus utilizadores encoraja o homem a fazer algo que ele consideraria mais contraproducente empreender no mundo físico. Aquele que chega a um grande fórum digital, seja uma rede social, uma caixa de comentários de um jornal, ou a um qualquer canal de generalidades e debita um pensamento, um protesto, um louvor, uma tomada de posição, aceita realizar algo que no mundo físico não se vê acontecer com a mesma abundância e reincidência.

Imagine-se uma estação de comboios apinhada, imagine-se um quiosque no dia de jackpot de totolotarias, imagine-se uma praça de alimentação de um centro comercial de um dia de chuva. E agora imagine-se a comparecer num destes locais e a proferir, em voz alta, os mesmos pensamentos, protestos, louvores, ou  tomadas de posição que mais facilmente já propalou ou vê propalar pela internet. Os transeuntes olhariam para si, as expressões das pessoas não o deixariam indiferente, e notaria também a profunda desatenção e desprezo votada pela maioria dos passantes. A sua voz, que atentava ao início alcançar o "mundo" lá fora, a opinião pública, acabaria por projetar-se e impactar muito poucas pessoas daquele espaço físico, não alcançando sequer as ruas mais próximas. Seria assim tão motivante e inadiável comunicar ao mundo essas ideias e mensagens?

O confinamento ao conforto do nosso espaço físico e a uma privacidade anonimizante aquando da experiência de comunicação empreendida via internet cria uma impressão de facilidade no emitir conteúdos subjetivos para concidadãos desconhecidos. Concidadãos que não estão minimamente comprometidos com a ousadia dessa comunicação, e com processos de empatia que os faça respeitar quem fala. Tenho-me convencido de que a ideia platónica da internet como fórum  democrático de discussão não colhe, pelo mesmo motivo que nunca foi possível fazer debates organizados e respeitosos no espaço público. Ainda para mais tudo decorre na ausência de um moderador. As conversas são rapidamente tomadas em ardis sectários dominados por pessoas que agridem e descredibilizam gratuitamente, e as conversas são também elas próprias cheias de irrazoabilidades e confusão total entre a mensagem e o mensageiro, entre o discordar e o não ter direito a falar.

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