Tirando porventura pessoas expostas mediaticamente, poucos de nós têm a oportunidade de se reverem após terem participado com palavras ou atos num dado evento ou ocorrência. Vem isto a propósito de uma experiência profissional recente na qual tive a necessidade de rever uma gravação áudio de uma reunião de trabalho para efeito da elaboração da respetiva ata. O me motiva a falar disto prende-se com a constatação de que esse exercício ser escuta de si próprio pode vir a acompanhado de grande surpresa pessoal.
Quando falamos ou discutimos com grande concentração sobre o tema motivador desse diálogo perdemos bastante visão lateral sobre coisas que são ditas por outros em interligação com o conteúdo e estilo do que proferimos, assim como deixamos de ter consciência de pequenos tiques, muletas ou artifícios discursivos próprios que nos permitem gerir ou prevenir divergências com terceiros, acelerar ou retardar assuntos, produzir reações emocionais ou racionais ao curso dos assuntos discutidos.
Assim, o poder ouvir demoradamente palavras de um dado contexto, permite-nos, em contexto mais neutro, compreender como tratamos os outros de quem gostamos mais ou de quem gostamos menos, assim como compreender como nos gerimos em contexto de ameaça, elogio, erro, etc. Essa experiência, passadas agora algumas semanas desde o momento em que aconteceu, ainda reverbera em mim e instiga-me a procurar proativamente mudar alguns aspetos sobre mim que não gostei de ver enquanto testemunha da minha própria conduta. Tendemos a falar muito de nos olharmos ao espelho, mas espelhos como estes de que falo são mais raros, e portanto neste domínio convivemos com uma projeção mental da nossa silhueta sem qualquer tipo de escrutínio face à realidade exterior.
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