Coexistencia I - Mario Núñez (2015)
Uma parte natural da tensão sentida quando se assumem papeis de liderança de um agregado social prende-se com o assegurar o cumprimento do padrão comportamental e de valores que se ambiciona ver implementado nesse ecossistema. Esta tensão existe desde logo na esfera familiar pela tentação possessiva inerente à consanguinidade; mas irrompe também em cenários coletivos como um condomínio, um bairro, uma escola. uma freguesia, uma equipa, e/ou um grupo de trabalho.
Claro está que há menos margem para intervir em domínios extrafamiliares, mas mesmo em domínios familiares há idades e etapas de mais fácil consenso e outras de mais aguerrido confronto das regras ou de menos pacífica reinvindicação. O indivíduo é deixado assim numa encruzilhada de desafios, em que equilibrar posições e manter a coerência são objetivos asseguráveis apenas sob considerável esforço e capacidade de encaixe.
Por outro lado, as coisas são verdade quer as vejamos quer não, mas a contrariedade suscitada por coisas imperfeitas dói-nos em relação direta com a consciência e atenção que lhes prestamos. Um paliativo para o ímpeto de confrontação contra as brechas no cumprimento do padrão comportamental e de valores é o afastamento, mas com esse pode vir a alienação, a desumanização, e o alheamento de situações que a prazo evoluem para problemas maiores e ingeríveis. Outro, menos óbvio, é o trabalhar sob os a priori do tema alvo de quezília, de modo a propiciar ajustes a montante do problema, conducentes a que este seja resolvido (ou muito mitigado) pela via de o fazer evitar surgir.
Um exemplo prático que me ocorre é o da acumulação de lixo fora dos contentores na via pública. Ao invés de se entrar em rota de colisão com todos os que se dirigem ao contentor cheio e ainda assim depositam fora deste o seu lixo, é possível solicitar que dois contentores possam ser colocados naquele ponto que um parece estar a ser insuficiente para o efeito; ou pedir que a recolha naquele ponto seja intensificada. Estas formas de atuar eclipsam os danos relacionais sempre que se segue pela via de confrontar outros seres humanos. Preserva-se um bem maior que é a harmonia, sem prejuízo de aplacar problemas importantes.
O que nem sempre há, e aí mea culpa para o género humano e seus castrantes processos formativos, é clarividência para atuar de uma forma mais holística e preventiva nos sistema humanos. E é aqui, a montante de todo o qualquer problema, e de todo e qualquer agregado social, que há trabalho estrutural a fazer para pavimentar o caminho que resolve problemas evitando o confronto e, com isso, em salvaguarda da harmonia.
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