No calor dos momentos mais conflituosos é difícil ser-se magnânimo. A frio, porém, temos a oportunidade de nos redimirmos pelo de recentrar os problemas, deixando-os destilar a essência das suas causas. Uma fonte importante mas não exclusiva dos problemas entre humanos deve-se ao conflito de gerações, o qual contempla toda a diversidade decorrente de mudanças conjunturais e/ou culturais que fazem pessoas de tempos diferentes entenderem e comportarem-se de formas desiguais. O entendimento entre gerações bebe dos mesmos requisitos e esforço encontrado em desentendimentos de naturezas díspares, como são as de religião, as de nacionalidade, as de preferência política, ou as de patamar socioeconómico.
A redução a um terreno comum é sempre imprescindível para apaziguar humanos dissidentes entre si, e essa redução pode, num plano bondoso e ingénuo (no bom sentido), passar por entender que todas as pessoas foram um dia bebés e crianças, e que os mais velhos (pense-se em ditadores ou em pessoas muito conservadoras) são crianças nascidas faz tempo.
Vêm estes ideias de duas músicas de autores brasileiros que me acompanham e que, juntas, consubstanciam uma proposta para relativizar os danos causados por pessoas mais velhas. Imaginando-as em criança, infantilizadas, talvez amaciemos a compreensão de que são seres em busca do seu lugar ao sol num mundo que não está bem explicado logo à nascença. Falsas partidas, passos em falso, autoproteção, birras, ciúmes, obsessões. Tudo fica relativizado se pensado no prisma de uma inocente crianças. Não resolve os assuntos, mas apazigua o vulcão emocional que conflitos geracionais podem suscitar.
Saiba - Adriana Calcanhoto (2004)
Velhinhos são crianças nascidas faz tempo!
Eu Não Sei Na Verdade Quem Eu Sou - O Teatro Mágico (2016)
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