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Sobre um transplante de cérebro

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Pensando na eventualidade de um dia vir a torna-se possível realizar transplantes de cérebro entre humanos, chegou-se a um ponto extremamente pertinente: ninguém se torna outro pela mudança de corpo, pelo que cada um de nós nunca poderá deixar de ser efetivamente a pessoa que é.

A fantasia que a ideia do transplante provoca – a de que nos tornamos outra pessoa - ilude a impossibilidade total. O ser nunca será o corpo, ou não houvesse, lamentavelmente, pessoas nos hospitais alienadas de ser mas premiadas com um corpo saudável.

Esta aceção ilusória de que chegaríamos a ser outra pessoa caso nos apropriássemos de outro corpo é rebatida na totalidade pelo exemplo de um par de gémeos, já que ao se associar nem, que inconscientemente, o corpo como o ser, encontrar-se-ia nos gémeos um exemplo de dois seres iguais.

Não conseguiremos nunca portanto fugir a nós mesmos numa situação de transplante de cérebro, apesar de podermos fugir do nosso especto anterior por via de uma mudança de corpo. Convenhamos que o nosso ser é para os outros o nosso corpo, enquanto único veículo ao seus dispor para identificarem o nosso ser numa multidão. Isso conduz a uma ideia interessante: um transplante de cérebro acarretará sempre uma manutenção de identidade para o sujeito que a sofre mas levará a uma aparente mudança de ser na perspetiva de todos aqueles que necessitavam do corpo que é deixada para trás para nos reconhecer.

Há ainda mais uma ideia irresistível: o transplante de cérebro poderia lançar-nos numa espiral dramática a respeito daquilo que é a nossa identidade. Seríamos capazes de olhar para o nosso ex-corpo e apreciá-lo como um cadáver de um estranho? E olhar para as nossas novas mãos, barriga, rosto e cabelo e reconhecermo-nos nesse retrato? Continuarias a ser a mesma pessoa que eras?

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