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Sobre o uso de calão

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O calão apresenta-se para a língua como o dinheiro se apresenta para as classes sociais, ele dá-se à proeza de tentar dissecar a fronteira que separa diferentes patamares culturais.
Embora sinta o peso repressivo para escrever o que quero, arrisco dizer que o calão tem estampado em si a hipocrisia dos que se querem emancipar do povo, e que se servem da sua não utilização para promover a sua imagem de pessoa culta.
Obrigo-me a contrapor, porém, que não sou apologista do uso desenfreado, muito menos desinibido, da linguagem calona, dado que esta se esgota na sua mensagem acrescentando efectivamente algo apenas em situações próprias.
Há muito que me pergunto, se não será de todo uma cretinice conceber no campo lexical, palavras que por retratarem certos estigmas culturais ou haverem ganho conotações depreciativas e intensas, devam ser subtraídas do linguajar normal.
Acho que qualquer tentativa de estratificação social, deve ser encorajada mais no sentido da ampliação do universo dialéctico de cada um do que pela restrição, de qualquer natureza, aos termos existentes.
Julgo que esta aversão ao calão, é vendida como ideia de pecado, mas a verdade é que o pecado não está nas palavras, está em nós. Há usos e usos a dar ao calão, assim como é possível massacrar pessoas sem recorrer a palavras feias, expressão que tantos tutores gostam de lembrar aos educandos.
O fenómeno do calão, em termos nacionais, define-se muita pelo desdobramento de sentidos e utilizações para termos calões, que funcionam como uma muleta para muitas frases em que escasseiam alternativas.
Gostava que não se cagassem sentenças merdosas quando se fala de liberdade de expressão por um lado e se fode o vocabulário com lacres de quem se acha zelador da língua e que nada mais é do que um polícia fútil de um trânsito transcendente a si.

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