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Sobre a falta de tempo

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48568oTws_w É curioso como se transformou num cliché uma certa linha de respostas do tipo não tenho tempo para isso. Não vale a pena estar a relembrar e referir as rotinas de vida das pessoas e as cargas horárias a que estão sujeitos no âmbito das suas actividades profissionais, académicas ou escolares. Estamos todos conscientes, talvez por motivos nem sempre positivos, apesar de também os haver, que existe alguma escravidão do tempo. Pode parecer total, mas salvo casos pontuais, não o é de todo.

Este chavão que mencionei encerra uma particular minúcia porque estou convicto de que aquilo que as pessoas querem dizer quando convicta e sentidamente afirmam não ter tempo para determinada coisa, é simplesmente que não têm disponibilidade mental para se concentrarem nessa questão.

Haverá certamente alguém neste país que anda para ir ao médico desde o Verão, mas que ainda não o fez alegando falta de tempo, quando na realidade tem andado atarefado com outros encargos que desviam o sujeito de se concentrar nessa questão.

Tentar perceber porque motivo confundem as pessoas a disponibilidade temporal com a disponibilidade mental é uma questão bem mais complexa. De acordo com umas leituras recentes, diria que a chave poderá estar na premissa de que para além do tempo cronometrado pelos relógios, existem outros tipos de tempo, como por exemplo o tempo biológico, que dá azo ao conceito de relógio biológico.

Uma outra concepção de tempo é o tempo mental, aquele de que o cérebro se apercebe. Mediante um estado de ocupação variável, a sensação de passagem do tempo pode estar presente de forma mais ou menos acentuada, independentemente de ser óbvio que o tempo cronometrado dos relógios tem periodicidade fixada.

Assim, talvez a pessoa tenha tempo para mais coisas do que pensa, simplesmente a sua mente convence-a do contrário porque não tem espaço mental que a permite perceber que continuam a existir janelas na sua rotina que podem ser utilmente aproveitadas.

2 comentários:

  1. Hoje em dia diz-se muitas vezes que os dias se tornaram mais pequenos, muito embora continuem a ter 24 horas, e as horas se continuem a compor de sessenta minutos como antigamente. Antigamente perdia-se tempo a deslocarmo-nos a uma cabine telefónica, para contactarmos alguém. Hoje basta levarmos a mão ao bolso, para que esse contacto se realize. No entanto, antigamente, depois do tempo perdido na deslocação à cabine, ainda nos sobejava tempo para muitas outras coisas, ao passo que hoje, mesmo não perdendo tempo no telefonema, o nosso tempo escasseia. Porquê?
    Só encontro uma explicação. Tornámo-nos em máquinas consumistas. E o consumo exige dinheiro. E a oferta de mais consumo é imensa e deslumbrante, e o dinmheiro cada vez é mais necessário, pois a despesa aumenta, e começa a ultrapassar a receita, e mais dinheiro se tem que ganhar para...
    Não admira que o número de hipertensos seja aumentado incrivelmente.
    A falta de tempo é fruto da procura de mais e mais dinheiro. Apenas isso.
    Os que vivem miseravelmente não têm falta de tempo. Nas suas vidas tudo decorre devagar. Vivem numa outra dimensão. Vivem no passado.

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  2. Olá

    Antes de mais deixa-me dizer-te que fico muito contente por o livro que eu te dei ter sido útil na elaboração deste texto e, portanto, na construção deste blog.

    É verdade que somos cada vez mais umas máquinas consumistas, quer de tempo, quer de dinheiro, quer de tudo! Mas acredito também que este escassear do tempo tem a ver com a vontade em avançar para um futuro que esperamos melhor. O presente não nos é suficiente e, então, mesmo estando em Dezembro já estamos a tentar marcar as férias do Verão. Ou em Abril desejamos que o Natal chegue rápido. Não sei se é por a vida não correr como queremos ou se, simplesmente, porque queremos mais e mais, não vivemos o tempo que temos, mas queremos viver o tempo que ainda não é nosso. Aquilo em que acredito é que, se vivessemos com mais calma, sem pressa de termos tudo, iríamos ter mais tempo, ou seja (e como tu dizes) mais disponibilidade mental para todas as tarefas que agora nos parecem impossíveis de conciliar com o nosso relógio.

    Abraço

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