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Sobre o entendimento e resposta à pobreza

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219593SXaw_w Suponho que muita da dificuldade em minimizar o problema da pobreza, erradicar será sempre uma utopia que resulta da dimensão relativa inerente ao conceito, muita da dificuldade, dizia, resulta da porventura errónea definição de pobreza que cultivamos para nós mesmos.

Talvez seja bom esclarecer à partida se um ser humano pobre é aquele que não tem recursos com fartura ou aquele que não tem cabeça para os saber gerar e gerir.

Não ter recursos é um estado (temporário) mas não saber lidar com o dinheiro quanto à sua geração e gestão é uma condição.

Sem fazer esta distinção não se concebe uma resposta condizente com o problema da pobreza. Vejamos que é mais fácil solucionar um estado que arranjar solução para uma condição. É o magnífico provérbio chinês da cana de pesca e do ensinar a pescar a frutificar a sua mensagem uma vez mais, sinal de que os problema de hoje não exigem necessariamente respostas novas.

Dar dinheiro aos pobres é resolver a pobreza enquanto estado, porque se procura resolver a pobreza atribuindo verbas para acelerar a temporalidade de não haver recursos. Este dinheiro, por não incidir na pobreza enquanto condição, poderá satisfazer o presente mas não evita que a falta de dinheiro volte à realidade dos pobres ajudados. Daqui por uns anos as pessoas ajudadas precisarão de mais dinheiro e, a menos de algo que delas não dependa aconteça, assim permanecerão.

Os pobres precisam de formação específica intensa: não tenho dúvidas de que se as pessoas dos bairros sociais pudessem receber uma bolsa para estudar gratuitamente e desenvolverem noções de economia, de empreendedorismo, de gestão, à saída do último dia de aulas a sua pobreza seria mais um estado do que uma condição. Há que investir nisto, convictamente e com agressividade!

A pobreza como condição é a pobreza de espírito, aquela que mina o sucesso familiar e profissional porque é propícia à falta de consciência das coisas, levando à precipitação e à incapacidade de encontrar respostas cabais aos problemas enfrentados.

O pobre não tem de saber quem foi Kant, mas deve saber como funcionam os juros compostos.

5 comentários:

  1. A pobreza material pode ter muitas origens. Descender-se de gente humilde, sem heranças para deixar é uma delas;
    porque se nasceu num berço pobre e não se tem vocação para fazer dinheiro, outra.
    Porque os pais eram pobres e não tiveram condições financeiras para poderem proporcionar aos filhos condições de uma vida melhor, mais uma.
    E por inerência a esta, porque apenas se conseguiu um emprego humilde, condizente com a sua condição, mais uma.
    E todas estas reunidas num mesmo homem- aí temos um pobre, cujo parco vencimento mensal, pela vida fora, nunca lhe permitiu fazer outra coisa que não fosse sobreviver.
    Já a pobreza de espírito...talvez no seu post seguinte se aborde essa questão.

    Cumprimentos.

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  2. Caro poeta,

    Permita-me simplesmente aquiescer o seguinte: as barreiras ao acesso do conhecimento sofreram um enorme revés com o desenvolvimento da Internet.

    Não é curioso que um pobre possa ter, em potencial, acesso à mesma informação que um rico?

    Os pobres não precisam de bens materiais nem de sucessivos apoios financeiros na conta bancária, para deixarem de ser pobres, precisam simplesmente de ajuda para ganhar estrutura mental e assim saber resolver cada problema que se lhes coloque, evitando a dependência do estado.

    Marcelo Melo

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  3. Caro Marcelo
    Nos dias de hoje, os pobres sabem ler como os ricos. No entanto, poderão não perceber o que lêem. É uma questão de literacia. E tal pode acontecer, porque os problemas financeiros em que vivem mergulhados, limita-lhes o discernimento, que é todo canalizado para a necessidade de sobrevivência.
    Por outro lado, pode muito bem acontecer que um pobre não tenha capacidade financeira para comprar um computador. Se assim for, como poderá ele ter acesso à internet? Um computador custa metade de um ordenado mínimo hoje em dia.
    O melhor auxílio que se pode dar a um pobre para ganhar estrutura mental que o capacite a resolver problemas, é dar-lhe melhores condições de vida, no sentido de de lhe desocupar a mente com problemas de sobrevivência. Quando o pobre sentir que tem condições financeiras para dar uma educação digna aos seus filhos, aí terá alcançado a estrutura mental que lhe permita avançar para sua própria valorização pessoal.

    Bela prosa a nossa!

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  4. Caro poeta,

    Permita-me dizer apenas que a sua alusão à compra de um computador é uma forma subtil de esquecer a possibilidade de acesso à internet em muitos pontos do país em que ele é gratuito: bibliotecas, juntas de freguesias, escolas.

    Julgo que esteve muito bem ao invocar a desocupação da mente para questões de sobrevivência. Totalmente de acordo neste aspecto.

    Não estou certo, contudo, que as condições financeiras saudáveis sejam suficientes para dar educação e ensino aos filhos: conheço exemplos de gente endinheirada que não logrou a educação dos filhos. O que está em jogo, para o pobre, é algo mais do que dinheiro.

    Contente pelo debate,

    Marcelo Melo

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  5. ...please where can I buy a unicorn?

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