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Sobre a escrita e a perda de carácter de escritor

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Identifico em mim uma certa tendência para criticar, no campo intelectual, a perversão que costuma ocorrer em certas matérias que são alvo de comercialização, as mesmas que, acredito eu, têm responsabilidades que deveriam ser salvaguardadas a qualquer custo.

A escrita é uma delas, quando passa a ser comercial destroça-se, perde-se.

Ressalvando desde já as assinaláveis diferenças entre a escrita de livros e a escrita meramente em sede da blogosfera, refira-se que, no mundo dos blogues, pela ferramenta que contabiliza os visitantes, os textos do blogue que foram visitados e o tipo de pesquisa que se efectou nos motores de busca, pode haver um tendência para a perversão da elaboração espontânea dos textos, no sentido de ir ao encontro dos leitores.

Poder-se-á alegar que não é de todo malévolo adequar o discurso ao público, e que se trata unicamente de uma vontade de fazer a coincidir a oferta com a procura, fazendo todos felizes, alegação essa que eu respeito embora coloque as minhas reservas.

A partir do momento em que uma cadeia de escrita é invertida na sua lógica de publicação através da escrita e publicação de textos que agradam ao público mas que não reflectem de todo o querer e os estímulos daquele que se dedica à redacção, algo está irremediavelmente perdido: o carácter do escritor. Estou certo que poderei ser invectivado no sentido de se me fazer notar que é perfeitamente possível que o autor afine o seu querer temático e passe a conciliá-lo com o do seu público, mas será apenas jogar com parte do baralho. Exemplos há, no universo dos livros, de autores que ao encontrar como que a fôrma de bolos do sucesso, dentro da qual elaboram os seus livros, não mais a largam ora por vício ora por medo. Eles sabem que é dela que o público gosta pelo que perdem a ousadia de se revelarem conforme são.

Também eu, neste espaço onde escrevo, tenho a noção de quais são os temas que mais promovem as visitas de leitores, basta-me consultar diariamente as estatísticas, mas abdico de perverter a minha escrita e assim perder o meu carácter.

5 comentários:

  1. Caro Marcelo Melo
    aqui, onde um determinado grupo de pessoas, no universo imenso da blogosfera, se «colam» umas às outras, lendo-se periodicamente, é natural que entre elas surja uma empatia engraçada, pois muito embora não se conheçam (em muitos dos casos), essas pessoas vão fazendo parte de uma específica parte da vida de umas das outras, os minutos dedicados ao blogue de cada um, que se vai alimentando com carinho. E cada um forma do outro uma projecção mental do seu carácter. De si, imagino-o a deambular pela sua universidade, carregando consigo todo o potencial intelectual, que os outros, em convivência diária consigo lhe desconhecem, e eu, que o não conheço, lhe reconheço. A sua escrita não é criativa, mas debruça-se profundamente sobre as coisas da vida. E mediante o que escreve, lhe digo que tem potencial de escritor e um bom carácter. É claro que posso estar a errar por completo, pois tudo o que escreve pode não passar de uma enorme fantasia, pois não comungo consigo o quotidiano, mas levando em conta a minha própria pessoa, incapaz de transmitir, através da escrita, aquilo que não sinta, suponho que não me engano se disser que a sua escrita é o reflexo do seu carácter, e como você é um jovem com um futuro muito promissor, não só como intelectual mas também como homem, daqui tiro o meu chapéu à sua argúcia, à sua atenção à vida, à necessidade que sente em falar sobre isso, e, muito particularmente, à forma bela (mas complexa) como o faz.
    Embora os meus comentários aos seus textos exijam de mim grande reflexão, é sempre com enorme prazer que o faço, porque considero ser muito importante que aos jovens lhes seja reconhecido o mérito, e se aqui, tenho oportunidade de o fazer, cá estou.
    Um abraço deste seu amigo.

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  2. caro marcelo melo tambem eu sou de bom gosto a favor da tua opinião, pois acredito que a escrita é antes de tudo uma forma de busca interior ou exterior quanto do proprio escritor, usar uma forma sem nesta procurar elementos que dealguma forma no façam olhar o mundo é simplesmente copiar a propria obra.
    este texto contribui e muito para meu ser.

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  3. Caro Poeta do Penedo,

    É repleto de satisfação que vou descubrindo os seus comentários e analisando por intermédio deles a eficácia com que me exprimo ou o impacto das minhas ideias.

    A internet é um meio dúbio porque há pessoas sem carácter, gente que finge ser o que não é. "Sobre mim" poderia ser um texto impossível de escrever. Acho que me conhece melhor do que muitos que são meus amigos do quotidiano não virtual.

    Embora o meu espaço virtual tenha diversos aspectos que estão padronizados, espero conseguir evitar vir a tornar-me num escritor padronizado, no sentido de escrever sobre o mesmo e com as mesmas ideias, situação que me conduziria a um estado de previsibilidade de que nem eu toleraria ler-me a mim mesmo.

    Deixe-me clarificar-lhe o que motivou este texto: apercebi-me de que o meu texto "Sobre as concepções estéticas" é visitado periodicamente por pessoas que pesquisam no motor de busca por "concepções estéticas". Do ponto de vista comercial, isto é, da divulgação do 3vial, eu poderia ser tentado a escrever mais sobre o tema das concepções estéticas, para assim ir ao encontro desses visitantes.

    Ora toda a discussão neste texto cinge-se à cedência ou não a escrever sobre o que os visitantes procuram.

    Grato,

    Marcelo Melo

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  4. Caro Poeta do Inverno,

    Descobri o seu espaço há minutos, pelo que ainda é um desconhecido par a mim.

    Deixe-me, porém, que lhe revele que gostei do que li no seu espaço.

    Dado ser relativamente mais novo, faz-me recordar o meu início na escrita online, que não foi há tanto tempo como isso, mas que partiu de ideais e estímulos que se me afiguram semelhantes aos seus.

    Espero poder encontrá-lo por aqui mais vezes. Apareça.

    Marcelo Melo

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  5. Caro Marcelo Melo
    tenho-o em elevadíssima conta. Considere-o uma pessoa que revela, antes de mais, muita inteligência, aliada a uma acutilante perspicácia e uma tremenda capacidade de comunicação escrita. Terá o dom da palavra?
    Com amizade.

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