Desde o início do desenvolvimento do meu espírito crítico, que me sirvo da experiência pessoal no percurso escolar para problematizar aquilo que é o ensino e o que lhe está no cerne. Foi portanto no seguimento deste trajecto que vislumbrei um pequeno detalhe do processo de ensino escolar, aplicável também à aprendizagem quotidiana não escolar, e que porventura será menos árduo de explicar recorrendo exactamente a esse campo de aplicação não académico ou escolar. Vejamos: se inquirimos um indivíduo menos erudito relativamente à apreciação de uma composição de música clássica ou de uma pintura de surrealista, será previsível expectar uma resposta pouco fluida e trôpega no assumir-se de uma perspectiva sobre o assunto. Convenhamos que é natural que assim seja.
A nuance que despertou em mim algum desvelo consiste na consideração do que acontece quando a esse mesmo indivíduo é apresentada não uma mas duas composições distintas de música clássica ou duas pinturas surrealistas distintas. Neste novo cenário o indivíduo terá provavelmente menos hesitação e embaraço no comentar as matérias em causa. E porquê? Exactamente porque no segundo caso a questão é trazida para os terrenos da relatividade. Quando somos confrontados com o absoluto a mente dispersa e perde-se o norte que a guie com agilidade.
Dito isto importa realçar como no processo de ensino certas disciplinas se servem desta nuance sobre o relativo, repetidamente, enquanto outras apenas raramente perdem a sua focalização no absoluto. A questão não tem a ver com a natureza das disciplinas ou matérias, antes com a estrutura de ensino, a forma como se estruturam os conteúdos. É ridiculamente mais fácil falar sobre os peixes contrapondo-os aos mamíferos, do que declarar o que estes são sem transportar a questão para terrenos da relatividade.
Para mim esta matéria explica em parte porque motivo certas disciplinas provocam problemas aos alunos e outras não: é contra natura viver no absoluto, eles sabem-no.
Caro Marcelo Melo
ResponderEliminarseguindo o seu raciocínio, dir-lhe-ei que, para mim, português, filosofia, história e biologia foram disciplinas perfeitamente liberais. Horrivelmente absolutistas foram química e matemática, essas desgraçadas.
Com amizade
Caro Poeta do Penedo,
ResponderEliminarPois lhe digo que tive tento nos dedos para não citar as disciplinas que para mim tendiam mais para o relativo ou mais para o absoluto.
Sem dúvida que as ciências exactas são mais absolutistas do que as outras que referiu. E sabe que este facto poderá ajudar a explicar as maiores dificuldades nessas disciplinas em detrimento das outras?
Já uma vez escrevi que as pessoas admitem que as disciplinas têm todas o mesmo grau de profundidade e exigência, e que os maus resultados resultam tão somente da fraca preparação dos alunos nessas matérias. Que tremenda injustiça, a meu ver.
Sem mais,
Marcelo Melo
caro Marcelo o poeta do penedo ja disse qual as disciplinas que são liberais, ao meu ver todas a ciência exacta é absolutista, e com certeza contra a minha natureza.
ResponderEliminarabraços.
Caro Poeta do Inverno,
ResponderEliminarConceda-me a permissão para que discorde de si quando afirma que aquilo que é absolutista é contra a sua natureza.
Prevejo que o que pretendia dizer é que prefere o universo das letras em detrimento do das ciências exactas. Mas isso é distinto de se afirmar que o absolutismo é contra a sua natureza. As coisas absolutistas são necessárias e certamente que você encontrará na sua vida e na sua actividade escrita a constatação do quão problemático é abordar recorrentemente os temas numa perspectiva relativa. A certa altura o que você escreve ou pensa perde valor e sentido, e acaba por considerar não distinguir qualitativamente as coisas, porque a relatividade desaba sobre si e sobre o seu pensamento, e você perde-se.
Cordialmente,
Marcelo Melo