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Sobre a luta pelo poder em democracia

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Temos assistido nas últimas semanas a uma titânica luta à volta do poder, semelhante à que vemos em muitas manadas de felinos por essa África selvagem fora.

No meio do celeuma e da poeira gerada pelo motim em praça pública, torna-se impossível para o cidadão comum perceber quem tem razão, quem mente, quem está a provocar e quem está a defender-se. A desordem entre os felinos não é perfeitamente compreensível porque há investidas ocultas pela poeira e pelo ruído criado, mas também porque existe um núcleo da manada que batalha em privado, isto é, nem todos os golpes são desferidos à vista desarmada, para perplexidade do árbitro, o povo.

Nesta guerra, quatro são as estirpes oficiais de felinos que aparentemente batalham pela sua fracção poder: os felinos económicos, cuja arma é a riqueza; os felinos políticos, cuja arma são os cargos políticos e os partidos políticos; os felinos jornalísticos, cuja arma é a comunicação social; e finalmente os felinos judiciais, cuja arma é a lei e os tribunais.

Aparentemente, esta ordenação de felinos pressuporia que estes se organizassem em função da sua estirpe e batalhassem lado a lado no cumprimento leal e digno das suas funções como garantia unívoca do poder que naturalmente é devido às suas estirpes.

Pois bem, eis que o tempo, a ganância e a matreirice conduziram à miscigenação das estirpes de felinos e à consequente criação de grupos de interesse organizados, que transcendem a disposição por estirpes e que com isso ganham mimetismo face àqueles que ainda se mantêm fiéis à disposição por estirpes.

Com isto, a disputa ganha em complexidade o que perde em visibilidade e compreensão: 1) o poderio económico procura garantir o poderio jornalístico e assim o poderio político e judicial; 2) o poderio político, procura colar-se ao poderio económico e controlar o poderio jornalístico e judicial; 3) o poderio jornalístico sobrepõe-se ao poderio judicial e procura influenciar e manipular o poderio económico e político. 4) o poderio judicial funde-se com o poderio político e controla o poderio económico e jornalístico. Eis o meu o meu retrato do que sucede neste país democrático.

4 comentários:

  1. Meu caro Marcelo melo
    uma análise assaz perfeita, uma visão política objectiva e escrita de uma forma perfeitamente compreensível, o que não acontece com muitos dos debates televisos, que após terem terminado sentimos que ficámos tão esclarecidos como estávamos antes do debate começar. Este seu texto merecia ser publicado num diário nacional, porque a nossa política é tudo o que disse, e tudo o que lhe chamou. Parabéns. Eu tenho razão quando digo que Portugal tem em si um pensador fabuloso. Espero bem que alguém dê por si e o aproveite, porque é de homens assim que este Portugal precisa.
    Com amizade

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  2. Marcelo, você não me conhece... Leio, entretanto, alguns contatos do meu amigo Fareleira Gomes e andei, por isto, fuçando, talvez indevidamente, ao seu blog. Gostei. Digo, todavia, que Poderes "democráticos" amarrados a interesses escusos, não são privilégios dos portugueses. Pois aqui no meu país, desavergonhadamente, o nosso povo não passa de mera "massa de manobras".
    Abraço de Gibson.

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  3. Caro Poeta do Penedo,

    Muito obrigado pela apreciação favorável que manifestou.

    Ando perturbado com o rumo do país e tenho ponderado participar mais activa e presentemente na política.

    Acontece que não estou disposto a abdicar de certos princípios para poder entrar no círculo político deste país.

    A política e a justiça têm resvalado para uma telenovela destinada a aspirantes a intelectuais, visto que todas as noites há uma miríade de gente que alimenta essa telenovela com mais enredo e potencia a subjectividade.

    Cinjamo-nos mais aos factos, aos números e ao que é consequente em cada matéria abordada, seria este o meu aviso à nação.

    Grato,

    Marcelo Melo

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  4. Caro Gibson Azevedo,

    Um cumprimento especial para si, que se estreou no meu blogue na qualidade de comentador.

    Eu já vivi no Brasil tempo o suficiente para perceber de forma a democracia brasileira é afectada pelo problema da corrupção.

    Contudo, permita-me que não aceite a relativização do problema luso através da comparação com que se passa no Brasil.

    Portugal está com problemas estruturais que nos últimos anos têm sido agravados por uma crise internacional também ela grave.

    É completamente absurdo que o país ande a viver na orla de escandâlos à volta do primeiro-ministro, que depois não são concretizados pelos tribunais.

    Anda-se a dar cobertura de assuntos que não são prioritários quando o crucial é corrigir o balanço negativo das contas públicas sem hipotecar o futuro das novas gerações. Chama-se a isso sustentabilidade e é nisso que todos se devem focar, políticos e imprensa.

    Um abraço,

    Marcelo Melo

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