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Sobre a mentecaptidão na questão do tempo

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A mudança de horário oficial, que vivemos este fim-de-semana ao adiantarmos o ponteiro das hora em uma unidade, provoca em mim uma torrente de dúvidas e ideias a respeito da natureza do tempo.

Tanto quanto apurei, o horário de Verão surgiu na época pré-electricidade como proposta para reduzir custos com iluminação maximizando a exposição solar. Na União Europeia os países não têm autoridade individual para decidir se aderem ou não à hora de Verão, apesar de poderem escolher em que fuso horário pretendem situar-se.

Confesso que o tema do tempo representa para mim um fracasso intelectual até ao momento, que se vê agravado pela paradoxal noção de que quanto mais tempo dedico à compreensão do tempo, mais confuso fico a seu respeito.

Afinal, parecendo-me que o tempo é uma convenção que quando foi assumida assentava em pressupostos próprios dessa altura, porque não procurar pelo menos debatê-lo à luz da realidade civilizacional actual? Apostaria que a maior parte das pessoas ainda não se deu conta de que o tempo que encontra ao olhar para um relógio não é o tempo em si mesmo, apenas artifício para orquestrar a vida humana. O tempo não são horas, minutos, ou segundos, estes são meras construções científicas baseadas em observações astronómicas segundo uma perspectiva terrestre. Afinal, no dia em que o homem tiver colónias representativas a viver noutro planeta, será que fará sentido dizer que 24 horas, o tempo de um ciclo solar na Terra, é equivalente a menos ou mais do que um dia no planeta Marte? O que é um dia em Marte, afinal de contas?

Esta alusão aos astros parece-me ser a ponte adequada para problematizar o tempo e procurar compreendê-lo melhor enquanto dimensão ubíqua independente do nome, convenção ou teoria que o homem lhe vista. Por isto e pelo que se poderia dizer mais, é minha convicção que estas derivações do tempo de Inverno e de Verão são manobras humanas incidindo sobre algo que é indomável. O nosso conceito de tempo é uma narrativização daquilo que o tempo é.

4 comentários:

  1. Meu caro Marcelo Melo
    O tempo é de tal forma soberano que se deve rir de tudo o que o homem faz e inventa para o compreender, e com ele se relacionar. O tempo, desde há alguns milénios a esta parte, viu-se ser apelidado de muitas nomes: Primavera, Verão, Outono, Inverno, Janeiro, Fevereiro...segunda-feira, terça-feira...segundo, minuto, hora, dia, mês, ano...como se ele, antes da existência do homem, não se fizesse sentir. A que dia da semana é que terá ocorrido o cataclismo que determinou a extinção dos dinossauros?
    O tempo deve rir-se dos relógios, das imensas maquias que se pagam para o saber contar.
    Respondendo á sua pergunta, acho que Marte terá um dia com menos horas do que a Terra, já que é mais pequeno, mas em contrapartida terá um ano maior, já que está a maior distância do sol do que a nossa pedra rolada.
    Acho que o tempo é tão pachorrento, que nem dá conta da nossa aflição em contá-lo. No entanto o tempo, para mim, tem sido bem apressado.
    Com amizade.

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  2. "um relógio não é o tempo em si mesmo, apenas artifício para orquestrar a vida humana". Como maestro, diria que o relógio é o maior tirano de todos eles. Não é só com sua batuta que rege nossos dias e obrigações, mas também nos chama a atenção a cada nota errada que emitimos.
    Eu, como boa corista que tenho sido nos últimos quatro anos, entendo ser fundamental a pessoa do maestro e regente de uma orquestra. Sem ele, todos os sons se misturam e mesmo com uma partitura à nossa frente, o maestro é quem comanda a velocidade e a sincronia.
    Bem ou mal, se o relógio orquestra o tempo, o faz bem. Ainda que para nós isso represente a tirania da urgência.
    "Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus". Efésios 5:15-17 (Bíblia Sagrada)

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  3. Caro Poeta do Penedo,

    Deixe-me partilhar que este texto surgiu também no seguimento de uma conversa que tive com uns amigos recentemente, a qual não era nova nem para eles nem para mim.

    Eu sinto que o tema me transcende e que não sou capaz de o compreender o suficiente para ter uma tese pessoal.

    Ainda assim, parece-me que a falta de debate público sobre o tempo constitui uma tremenda lacuna que em muito acredito que esteja a influir no estilo de vida actual.

    E repare que hoje fala-se de "Gestão do Tempo". Com que fim, se não se discute aquilo que é a subjugação do homem através de convenções sobre o tempo formadas há centenas de anos?

    Um abraço.

    Marcelo Melo

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  4. Cara Lê Cami,

    Agradeço-lhe a visita e o comentário!

    Permita-me que estabeleça uma ponte entre este texto e o seu texto intitulado "Amarrando Pontas à Vida".

    Na minha opinião, esse amarrar de pontas da vida tão desejado por conferir organização à vida, poderia ser facilitado caso houvesse mais reflexão em volta do tema do tempo.

    O tempo em absoluto não é mutável por nós, mas a forma como o homem se organiza e o incorpora de forma a poder viver em sociedade, essa sim poderia ser mais discutida. Afinal, fica no ar a impressão de que o "tempo" é um assunto que está resolvido e que não pode ele próprio ser optimizado.

    Porque motivo excluímos este tema do debate? Será distracção, será resignação?

    Os melhores cumprimentos,

    Marcelo Melo

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