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Sobre o odor a Páscoa numa loja de café

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Os nossos erros são correlacionáveis com a atenção dada ao detalhe. Não que aquilo que vou partilhar seja um erro em si, antes um reparo visto por quem por vezes presta atenção a detalhes e dedica algum tempo a reflecti-los.

Vejamos. Eram vésperas de Páscoa, essa celebração religiosa, e os funcionários de uma conhecida marca de café com projecção mundial lacravam cada despedida com os clientes atendidos com um sorridente e simpático “Boa Páscoa” que aparentava abonar a favor de uma certa cultura de atendimento apurada percepcionável na loja da referida marca. Surgiu-me então a questão: fará sentido desejar uma boa Páscoa a todos os clientes indiscriminadamente apostando na cortesia do acto e descurando uma eventual inadequação dos votos à pessoa que os recebeu por força de uma religiosidade que não a católica?

Apesar da minha colocação do assunto, tudo isto não passa de um aspecto do atendimento. Não estou em condições de confirmar se em Londres, Nova Iorque ou Paris a funcionária homólogo faria os mesmos votos, sendo esses locais em que a religiosidade é mais um vector pessoal do que da comunidade. O que está em causa neste padrão de atendimento é a noção de que a comunidade portuguesa, ou só a nortenha ou só a portuense, é uma comunidade católica numa maioria suficiente para justificar o risco de se ser impreciso no atendimento dos que não forem.

Deixemos por ora as funcionárias da loja em paz, e concentremo-nos antes em dois pontos. Por um lado, temos o eco de que a sociedade em que me inscrevo, ainda está cristalizada numa ruralidade globalizada, visto que ainda lhe é negada pluralidade substantiva no credo. Depois, por outro, pergunto-me se marcas de projecção mundial que tanto vendem em Tóquio, como em Berlim, como no Dubai, devem descurar detalhes de atendimento como este, mesmo que estejam a vender em cidades menores ou em regiões de forte definição religiosa, como ainda parece ser o norte de Portugal.

2 comentários:

  1. Caro Marcelo Melo
    a arte do negócio é na verdade arte. E sabe ler o meio ambiente em que se insere. Considero que sendo Portugal um país católico pouco mais há a fazer, se se quiser ser simpático para com o cliente, do que desejar a toda a gente uma Páscoa feliz ou um Feliz Natal. Aliás, esse tipo de cortesia, nesta épocas torna-se praticamente mecanizada. O comerciante corre-se os seus riscos, é certo, ao fazer tábua rasa e desejar Boa Páscoa a toda a gente, mas, a não ser que a cor da pele lhe possa trazer alguma desconfiança (porque a cor da pele pode determinar o credo), pouco se arrisca a falhar. E se tal acontecer, desde que o produto que vende tenha qualidade, o freguês tapa os ouvidos. Pelo menos eu assim faria, se na casa onde compro o café fossem menos simpáticos para comigo. Como muito bom apreciador de café que sou, seria preciso uma grande ofensa para me fazer abdicar daquele sabor e aroma que somente ali encontro. Pela qualidade do café perdoaria o facto de me estarem a desejar uma boa páscoa, se a páscoa não se celebrasse na minha religião. Neste caso, a qualidade soprepõe-se ao credo.
    Com amizade.

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  2. Caro Poeta do Penedo,

    Certamente que não perdi o sorriso com esta situação. Uma vez mais reitero que se tratou de um detalhe, matéria que certamente se enquadra no título e mote deste blogue: trivialidade.

    Há em mim uma certa sensabilidade a estas questões da religião porque neste particular pertenço a uma minoria em Portugal: o grupo dos que não são católicos.

    Concordo consigo quando diz que os votos são mecanizados.

    Grato pelo comentário,

    Marcelo Melo

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